sexta-feira, 19 de maio de 2023

Paixões Machadianas

Me encontro nostálgico daquelas paixões... Das boas, das que nos fazem sofrer sorrindo, chorar cantando... 
Nos tempos de hoje, o que me tange são essas paixonetas rarefeitas que se desvanecem com quaisquer brisas taciturnas...
Aguardo ansiosamente os tempos vindouros, quiçá nestes haja colheitas d'amores...

sábado, 13 de maio de 2023

Moça-Poema, Mulher-Canção

Uma hora dessas 
Eu te faço de canção
Faço de você poema
E afago teus cabelos 
Como cordas de violão.
Te declamo em praça pública
Me derramando feito vinho
Sangrando todo adjetivo 
Como se, ferido por espinho 
E não há cálice que cale
Um poeta em desalinho.
E o sol do teu sorriso
Vai renascer na tua boca
E toda hora vai ser pouca
Pra eu te cantar, mulher-canção.
E quando chegar a noite
Ainda estando em pensamento
Me transmuto em instrumento
Pra poder te cantar de novo.
Na beira de uma fogueira
Cada brasa e cada brisa
Vai dançar a tua dança
Vais brincar feito criança 
Até que venha o amanhecer. 
Mas que noite foi essa?
Parece que bailei à beça
Mal sinto os meus pés
E se eu bem me lembro
Tive um sonho diferente
Você era onipresente
E estava em toda parte
Diluída em toda arte
Representando o que há de bom
O que há do ser
O que há por vir
E tudo cantava no seu tom
Seu dom de ser
E aquele jeito encantante e escancarado de sorrir.
Acordei brindando à vida
E meu velho coração 
Até errou as batidas
Saiu do compasso
Sambou no vazio-espaço
E voltou à harmonia
No conforto desse teu abraço.
Isso já tá parecendo uma oração
Mas só fiz rimas pra dizer
E te cantar, moça-poema
E te dançar, mulher-canção.

terça-feira, 25 de abril de 2023

Nigrum Homines

Homens pretos
Quantas vezes tiveram que ser menos?
Quantas vezes se diminuíram para caber em cubículos?
Quanto se negligenciaram a troco de migalhas de afeto?
Quanto foram silenciados, acusados, acuados?
Violentados e sempre taxados violentos, agressivos.
Vilipendiados, defenestrados, perdemos nossa  integridade, nosso direito e vontade de ser.

ACORDA, HOMEM PRETO! 
Seja no mínimo o máximo!
Se olhe com o carinho e o cuidado de quem te ensinou a ser sempre educado e ter as mãos à vista. 
Não abaixe a cabeça, seja e esteja onde deseja. 
Na paz de Zambi, no amor de Olorum, você não está só.
Olhe para trás, olhe sua cor e entenda o poder que isso tem. 
Não aceite menos. Chega de migalhas. Chega de escravidão. 
Temos a cor da noite, temos a lua como nosso guia. Seja grande como o céu!
Vai, homem preto, vai empretecer o que dizem ter esclarecido.

sábado, 22 de abril de 2023

Quando Se Der Conta...

Você, 
Num dia desses, vai se deparar consigo mesma rindo feito boba 
Lembrando de qualquer coisa idiota que eu tenha dito 
E aí vai ter vontade de me ver. 
Vai dizer pra si mesma, 
Talvez em voz alta, 
"Ai que bobagem, eu não quero ver esse idiota não". 
No fundo sabe que quer.
Aí vai me mandar uma mensagem despretensiosa falando sobre qualquer coisa aleatória. 
Eu vou soltar outra daquelas piadas idiotas 
E você vai rir de novo. 
Vai pensar, sem dizer 
"Como eu me divirto com esse idiota".
Quando se der conta...
Quando se der conta...
(Edson Teles)

23 de abril de 2023

terça-feira, 7 de março de 2023

Descansemos em Paz

Hoje eu acordei com uma sensação estranha. O peito doía. O ar parecia estar denso, rarefazendo-se. Respirei fundo e ouvi um grito mudo. Meu? Seu? Não sei.
Resolvi abrir o peito, mesmo sob as insistentes lágrimas que ousavam brotar. Abri e vi que você havia se matado lá dentro, aqui dentro. Hoje foi o dia em que você morreu dentro de mim, dentro do meu peito, dentro do meu eu, dentro do meu amor. Fiz uma prece. Sem pressa.
Comprei flores, trouxe até bem perto da fenda aberta. Senti seu cheiro. Senti o cheiro da lembrança de quando você vivia em mim. Quis chorar, mas sorri com ternura.
Levei tudo o que havia restado de você em mim para a beira d'água. Decidi ritualizar de outra forma essa passagem. Não vou te enterrar em mim. Não merecemos conviver com essa dor, com a putrefação dos sentires.
Lavei tudo com cuidado, com a mesma devoção amorosa de outrora. Sorri com saudade.
Estamos livres definitivamente agora. Que descansemos em paz.
(Edson Teles)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Sem Tempo

Quanto tempo dura o tempo?
Quanto tempo dura o quanto?
Quantos quanto dura o tempo?
Quando o tempo dura quanto?
Quanto tempo dura o quando?
Quando o tempo dura quanto?
Quantos quando duram um tempo?
Tempo tempo tempo tempo
Que horas são?
Meu relógio está parado
Só mexem os ponteiros
E eu não entendo
Eu não entendo de tempo
Eu não entendo de quantos
Eu não entendo de quando
De quando eu parei de contar
O tempo.

O tempo é indelével
Implacável
Desesperado
Pontual
Esse é o ponto.
Onde eu me encontro?
A tempo
Há tempo!
Há tempos
Sem tempo
Há tempos eu estou sem tempo
Desde quando?
Quanto tempo faz?
Quanto tempo faz?

domingo, 25 de setembro de 2022

Quatro Elementos de Nós



Tanta tanta coisa
Aconteceu por tantos dias
E eu, passageiro da agonia
Mal pude parar pra respirar.
Ar.

Tanta história 
Dias de paz, de luta, glória e guerra
Tenho tudo na memória
Enraizado aqui, agora.
Terra.

Tanta vida
Que nós perdemos nesse velho jogo
Nos encontramos e é sempre assim
Sempre quente feito prato de comida.
Fogo.

Tanta mágoa
Que há de se esvair e escorrer
Lavando e levando pro fundo do mar
Até o nosso dia de novo chegar.
Água.

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Aprendendo a Nadar

Sinceramente
A sensação de saudade
É um sintoma da intoxicação 
Daquele antigo amor de meias verdades

Onde se dizia A
Querendo que se entendesse B
Mas, era o C de conflito
Que fazia questão de aparecer

Sinceramente
Sei que sinto muito ainda
Ainda há muita água pra rolar
E se não me afogar
Pode ser que eu aprenda, dessa vez, a nadar

terça-feira, 23 de agosto de 2022

Desapaixonando

Como um bom apaixonado
Vivo aos cantos a sorrir
Assim como sei apaixonar
Também sei a hora de partir

Meu coração jaz agora aos teus pés
Pise-o se não mais lhe servir
Eu sequer sentirei dor
Tampouco estarei por aí

Apaixonar-se é maravilhoso
Mas, toda paixão é também um sofrer
O apaixonado começa feliz
E no fundo, sempre sabe que vai se foder

Eu mesmo já nem ligo mais
O estado apaixonado é meu esporte
Gosto até de quem nem me sabe
E assim vou aprendendo a ser forte

Minha sina de poeta depende da paixão
A sensação é quase sempre incrível
Vou me apaixonando e desapaixonando
Sigo, um romântico incorrigível.

domingo, 21 de agosto de 2022

Quatro

Elis chegou primeiro e disse:
Que agora venha Alice!
E elas esperaram maluquinhas
O dia do Evan nascer!
E completaram a fileirinha
Naquela sexta-feira 
Quando viram a pequenina Aimê.
Quatro pingos de chuva
Quatro dedos de luva
Quatro cachos de uva
Quatros histórias de amor.
Corações fora do peito
Minhas caras, minhas falas, meu jeito
Minhas saudades diárias
Meus pequenos botões de flor.
Cada um à sua maneira
Conquista o seu espaço.
Em cada briga ou brincadeira 
Tão diferentes e tão iguais
Mesmo crescidos, para este pai
Serão sempre bebês nestes braços.
Quando formamos nosso quinteto
Toda tristeza se esvai
Pode ser até que eu chore 
Emocionado ou enlouquecido
Cada vez que ouço me chamarem, pai. 
Meu reconforto
Meu refúgio, o meu depois
Minha vontade de viver.
Meu coração tem quatro nomes
Quatro polos
Quatro cantos
Elis, Alice, Evan e Aimê. 


sábado, 20 de agosto de 2022

Sinto Muito

Sinto muito
Eu sinto muito sim
Sinto tanto, tanto
Que me sinto assim
Sinto do mundo todas as dores
Sinto os cheiros das cores
Saberes e sabores de todos os amores
Sinto tanto e não tem jeito
Que tudo não me cabe no peito.
Tem dias em que eu quero explodir
Quero arrancar tudo de mim
E então olho o jardim
E sinto uma flor a me sorrir
Sorrio de volta
E o orvalho escorre do meu olho
Pelo meu rosto
Eu sinto o gosto 
E minha alma canta.
Eu sinto muito.
(Edson Teles - 20/08/22)

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Santa Tristeza Desatadora de Nós

Eu sei muito bem que mal sei
Onde você quer chegar
Com estas mesmas questões
Parece ignorar o real
E na real me arrancar 
Quaisquer mil confissões
Para olhar no meu olho e dizer "eu sabia,
E agora não quero mais saber de você".

Mesmo eu sabendo que há tempos
Você já queria partir
E me implora que eu parta o seu coração 
O inocente que fui quando era criança
Tenta entrar na dança para ser o vilão.

Não tenho nome de santo
Não fiz catequese
Não precisa de tanto
É só pedir que eu vou
Mas, não ordene que eu cometa os pecados
Que aniquile seus sonhos, que eu roube nos dados
Esse jogo de amor e de ódio que agora
Nos está consumindo, nem nos deixa dormir.

Vou te dar só mais este beijo
Eu espero e desejo que este seja só
Não coleciono esperanças
Mas, guardarei as lembranças
Desatando este nó. 


domingo, 5 de junho de 2022

Dona Morte

Pode ser que ela venha hoje ainda ou amanhã ou quem sabe daqui a 10, 27, 56 anos. Não sei.
Sei que ela espreita, observa, estuda. Ouve as canções que eu ouço e as que eu faço, embora ela se desfaça em silêncio. 
O relógio dela possui uma pontualidade britânica. Ela nunca se adianta. Ela nunca se atrasa. É pontual. 
Nascemos sob seus olhos certeiros. 
Por que tanto medo se ela é uma certeza da vida? Talvez a única. Inexorável.
O que está no depois deste encontro é uma dúvida, é uma crença dos que têm fé, um vazio talvez ou uma continuação. Não importa. 
Ela não toma remédios e nivela todos os corpos. 
Que venha no dia certo e na hora certa, mas, que antes disso, aprendamos a viver a cada minuto. Perdoando e amando. Sorrindo e cantando. É preciso viver. Urgentemente. Antes que seu beijo nos leve. E que seu beijo nos seja leve. Amém.

Edson Teles

05 de junho de 2022
12h34

quarta-feira, 11 de maio de 2022

Última Vez

Já me apaixonei por tantos cantos
Mas, nenhum outro encanto
Tanto, tanto me encantou.
Nunca me vi tão rendido, vendido, freguês
Como quando me apaixonei pela última vez.
Não me lembro se era de tarde, de noite ou de manhã
Mas, me lembro daquela respiração
Do coração do pecado, me fazendo provar da maçã.
Me lembro da minha língua tocando a tua
Das nossas almas se roçando na lua
E de ver pela primeira vez, uma deusa nua.
Na última vez que me apaixonei
Foi tão forte que tive medo de uma morte rapidinha
Antes de desfrutar de todo mel contido na própria abelha rainha.
As borboletas do meu estômago se materializam em você
E elas batem asas até hoje, toda vez que vou te ver.
Mudaram os cabelos, mudaram as estações
Surgiram as pedradas, surgiram as prisões
Mas, nunca ceifou-se a liberdade de viver de novo estas sensações.
Teu amor é surreal
Inexplicável, forte, animal
Sutil, suave, leve, lindo
Eu rezo pra Deus, agradecendo pela graça de te ver dormindo 
E acho um abuso da natureza te ver acordar sorrindo.
Esse plantio deu flor
E dos espinhos deu dor.
Só o tempo poderá curar.
Você mora em mim e é a casa
Onde eu quero morar.
Rir dos nossos defeitos
Acarinhar e morar entre seus peitos
Onde as andorinhas cantam sem parar.
Meu coração parou de bater, e só conseguiu apanhar.
A última vez que me apaixonei foi a descoberta de um tesouro
Minha dama, minha amante, minha amiga, mãe do ouro.
Se não havia perfeição neste mundo
Nada perto do meu coração vagabundo
Agora existe o maior bem querer
Da musa que me inspira vida e que me ajuda a viver. 
Não quero mais nada da vida
Se minha boca não puder te beijar
Quero te deitar no meu abraço e os passos que meus olhos andarão
Sempre serão para te olhar. 
Da casinha de madeira de um parquinho infantil
Das noites malucas de sexo de uma paixão juvenil
Aos silêncios ocupados por uma solidão vil
Ao retorno dos nossos amores, de nossa alma gentil. 
A saudade tão grande que tenho da última vez que me apaixonei
É que não dormi mais uma noite ao lado da rainha que me fez querer ser rei.
Na última vez que me apaixonei você estava lá
E eu ainda apaixonado, peço perdão, 
E canto essa canção pra você voltar.

(06/05/2022)
1h29

Edson Teles

sábado, 1 de janeiro de 2022

Vôo pra Vida

Diante das intermitências da vida, aprendo e apreendo um viver. Quiçá novo, quiçá renovado.
Prostrado diante da luz que emana, eu agradeço. Silenciosamente. Singela e simplesmente.
Não sei se neste percurso tortuoso, por vezes tórrido outrora gélido, eu tenha me tornado mais forte ou mais preparado, sei que estou diferente.
Estou em construção, mas, me sinto pronto, seja lá o que isso queira dizer e para seja lá o que esteja por vir.
A súbita intervenção da morte não mais me assusta, contudo, encho-me de pena pela possibilidade de ir mais cedo e não poder vestir mais aquela gargalhada que sempre me serviu tão bem. 
Sigo feliz e acreditando na vida.
Agradeço a cada olhar que tenha se encontrado com o meu, por partilhar a perenidade de seu espírito, mesmo que por alguns segundos.
Vamos em frente! Vamos, enfrente!
O tempo tem pernas compridas, ao contrário da mentira, mas, o elo que une  ambos é que correm. Respiro. Antes de correr atrás do tempo. Abro bem as asas e vôo pra vida.
Feliz Ano Novo!! ❤️

terça-feira, 13 de abril de 2021

Terno Branco e Vermelho

Rio de Janeiro, década de 40.
Ele, um menino pobre, preto, criado pela avó após a morte da mãe. O pai o abandonou ainda nos primeiros meses de vida. A avó, devota de São Benedito, benzedeira, de vez em quando “baixava um santo em casa” para atender à comunidade. Se dizia católica apostólica romana, apesar das práticas condenadas pelo padre da comunidade. Com escassez de quase tudo, viviam felizes, com um velho cachorro.
Ela, uma menina pobre, branca, criada pelos pais junto de mais um casal de irmãos. É uma família de pequenos burgueses em decadência. Todos católicos fervorosos, daqueles que andam de terço pendurado no pescoço, inclusive a mãe que, vez ou outra recorria à velha benzedeira, suas rezas, velas e simpatias. O pai alcoólatra foi o motivo da queda nos negócios da família e sua mudança para o subúrbio, durante a infância da moça.
Rapaz e moça eram vizinhos de bairro, moravam em ruas diferentes, mas, que eram paralelas.
Se conheceram na infância, entretanto, só se aproximaram e se tornaram amigos no início da adolescência, num grupo de jovens promovido pela igreja católica do bairro. Ela frequentava para manter as tradições familiares e sonhava com o dia de seu casamento, de branco, véu, grinalda e tudo mais. Ele, que não perdia uma boca livre, ia só para comer os bolos com suco de caju, que eram servidos no grupo aos participantes. Gostava mesmo era da macumba de sua vó, ali se sentia em casa. Conhecia as lendas dos orixás, as cores das velas, as rezas, os preceitos, o cambono perfeito. Impulsivo como todo filho de Ogum, não tinha medo de nada.
E foi nesta época que se apaixonaram. Romance obviamente proibido. Como a filha branca de um pai “ex-rico” ia se envolver com o negrinho neto da velha macumbeira? Já que não podia ser aceito, faziam escondido. Se encontravam várias vezes durante a semana para namorar. Em quaisquer lugares. Viviam um romance adolescente tórrido. Ela dizia que guardaria sua virgindade para o dia em que ele tivesse fundos e pudesse pedir sua mão seguindo os ditames da tradição.
No dia em que completou 16 anos, a moça estava ansiosa por um presente prometido por seu pai, até que um visitante chegou à sua casa. Ele trazia uma pequena caixa nas mãos. 
Era um velho caixeiro-viajante, amigo de seu pai (da mesma idade que ele, inclusive). Homem rude, escroto, sujo, asqueroso, sem modos, grosseiro, rústico. Este era o seu presente: um velho como marido. Na caixinha? Uma aliança de compromisso para pedir-lhe a mão em casamento.
Chorou por horas e fugiu para encontrar o rapaz. Contou-lhe toda a história e choraram juntos. Se beijaram e se despediram. Era hora de preparar-se para se tornar uma mulher casada, dona de casa, quiçá, mãe de muitos filhos. Filhos. Coisa praticamente impossível, já que o marido além de “disfuncional”, não era fértil. Ele fora casado com uma mulher que já era falecida (sorte dela!) e não teve frutos por “problemas” dele adquiridos na infância.
Enfim, não demorou muito para marcarem o casamento e consumá-lo. Logo, se mudaram para Minas Gerais e lá ficaram por cerca de 4 anos. Mal se teve notícias da moça que, pelo que se sabe, passava dias em total solidão enquanto o marido viajava a trabalho. Em alguns dias só chorava, em outros tricotava e cantava ao som de alguns passarinhos, tão presos quanto ela, pelo mesmo algoz.
O jovem rapaz, 2 anos mais velho que ela, até então, inocente, infantil, doce, nestes 4 anos de distância tornou-se um homem. Um típico malandro, rápido, esperto, liso, amado e amante de muitas mulheres. Desfez-se o menino de roupas encardidas, doadas por outrem e entrou em cena um homem elegante, sempre bem alinhado. Ternos quase sempre brancos, mas, sempre claros, chapéu Panamá na cabeça, sapato Mocassim bicolor, cigarro num bolso, navalha e baralho no outro. Quase nunca tinha dinheiro, mas, sempre dava “seus pulos” para conseguir algum.
Após 4 anos de saudade e muito chororô, ela convenceu o marido de voltarem ao Rio, para que não se sentisse tão só. Ele avisou que sua irmã solteirona iria junto e moraria bem próximo, para ficar de olho na moça. Voltaram. A irmã instalou-se na esquina, quase na frente da casa do casal.
E as notícias correm como um pé-de-vento, logo, a vizinhança toda já sabia do retorno do casal. Estranharam a falta de herdeiros, mas, a moça fora responsabilizada pela esterilidade.
O coração de menino do nosso bom malandro quase saiu pela boca quando soube. Preparou seu terno mais bonito para passar em frente à casa dela e ver se conseguia encontrá-la “por acaso”. E o seu “acaso” deu certo. 
Encontraram-se! Não podiam se abraçar ou se beijar, mas, o fizeram com os olhos. Mesmo seguindo em direções opostas, seus olhares continuaram abraçados, entrelaçados.
O marido dela continuava passando grandes temporadas fora de casa, em viagem, e essa foi a deixa para o bom malandro ir ganhando espaço. Não demorou muito para ter encontros calientes com a moça, na casa dela. Entrava escondido, pelos fundos, para que a cunhada-vizinha-fofoqueira não o flagrasse.
A primeira noite do casal foi a mais esperada, já que a moça ainda era donzela, mesmo casada, seu marido nunca conseguiu consumar o ato. E eles se amaram ardentemente. Passaram duas noites em claro se amando e se amando e se amando.
Quando o marido voltava até estranhava a alegria que pairava no rosto dela, mas, achava que era o contato da família que lhe fazia bem. E assim foram seguindo a vida, se amando às escondidas (se bem que, a esta altura do campeonato, por toda a vila já corria um boato do adultério) e o marido traído sendo patrocinador de tudo.
A moça passou a sair para a vida noturna ao lado do rapaz, ficavam em rodas de samba, jogo e bebedeira. Totalmente ao contrário do que a família imaginava. Ela não perdia a missa das 7h de domingo, mesmo que chegasse da boemia às 6h. Tinha que manter as aparências, embora muitos desconfiassem de sua amizade recente com certas pessoas da vila.
Janeiro estava chegando ao fim e o carnaval se aproximava, o marido avisara que viajaria durante o carnaval. Ela marcou com o rapaz de passarem o carnaval juntos e fugir na quarta-feira de cinzas depois da missa.
Chegou a sexta-feira de carnaval e o marido saiu cedo, apressado, mal se despediu.
Ela passou o dia ansiosa, no fim da tarde, foi se preparar para se encontrar com o seu amor. Estava decidida a mudar de vida a partir daquela quaresma. Tomou banho, lavou os cabelos quase que fio a fio, escolheu seu vestido mais bonito. Perfumou-se e esperou a hora de sair para a boemia de carnaval.
Ele já havia mandado lavar seu terno branco, seu preferido, com uma grana obtida num jogo com um mané qualquer. Na volta da lavanderia, tinha que passar por uma viela que, mesmo de dia, era estranha e escura. Lá foi ele, filho de Ogum que não tem medo de nada. Passou e sentiu um bafo de charuto em sua nuca. Ouviu uma gargalhada. Era Exu. Ele veio avisar que se não tomasse cuidado, essa malandragem, essa esbórnia toda ia acabar em sangue e sem glória.
O susto do princípio deu lugar a um clima de amizade, parceria antiga. Ele olhou pra Exu, que lhe deu um gole de marafo, sorriu, tirou sua guia de proteção e guardou no bolso. Disse que aquele era o seu dia e estaria bem protegido, inclusive pelo próprio Exu que lhe advertiu. Quem avisa amigo é.
Botou seu Panamá, seu Mocassim, seu cigarro, deixou a navalha e o baralho em casa- não era dia desse tipo de trabalho. Borrifou-se todo o seu perfume barato e saiu. Todas as suas ex-amantes que o encontraram pela rua praguejaram e rogaram mil maldições só porque ele havia deixado todas para ficar com a “santinha sem graça”. E assim foi. Escolhas. Elas que lidem com a dele.
Foi pra casa da moça. Passaram o final de semana todo juntos, discretamente. Quase que transavam em silêncio, tipo amorzinho mesmo. E a terça-feira gorda seria o melhor dia. Foram pra gafieira, dançaram, cantaram, comeram, beberam, tudo patrocinado pelo traído. Voltaram para a casa dela e transaram. Da melhor forma que poderiam. 
Até os sussurros podiam ser ouvidos à distância. Era a deixa perfeita para que o marido chegasse. Sim! Ele viajou sim, mas, chegou bem antes e ficou escondido na casa da irmã à espreita do casal de adúlteros.
O rapaz tinha o hábito de fumar e o péssimo hábito de fumar depois de transar pelado sentado na janela. 
Seu terno branco estava sobre a cadeira, debaixo da janela, por isso, ele subiu com muito cuidado para não sujar, nem derrubar cinzas nele. Sentou-se na janela, semiaberta e acendeu o cigarro. Ela, nua, olhava-o com ternura, da cama. O quarto cheirava a amor, a sexo, a perfume barato, a encrenca.
Do lado de fora, pertinho do muro, que era um pouco baixo, estava plantado o marido traído. Escolheu o momento certo, metade do cigarro e meteu no rapaz uma “azeitona de fogo” pelas costas, mas, que acertou direto no coração. Um tiro bem dado e certeiro. Morte instantânea. O vermelho do sangue que jorrava juntou-se ao branco do terno. A moça nem conseguiu chorar ou correr ou se vestir. Paralisou.
O marido teve a sua honra lavada com sangue. Tinha dinheiro e fez o que queria. Matou o preto alegando tentativa de abuso à honra de sua esposa, embora todos já soubessem do caso extraconjugal e da falta de desempenho do velho. Essa morte ficou por isso mesmo. Ele fora enterrado como indigente numa vala comum, já que sua avó se encontrava debilitada e partiu poucos dias depois dele. Mulheres choraram e outros malandros beberam em sua memória, mas, seu nome virou apenas lenda. A lenda do malandro que de tão esperto morreu sem glória.
Em pouco tempo a barriga da moça começou a ter sintomas estranhos, além da total apatia que lhe abateu. A cunhada a levou ao médico e confirmou: gravidez. Ela estava grávida do malandro falecido.
Assim que chegou de viagem, o marido pegou a mulher, enfiou-a numa carro e voltaram para Minas Gerais. Ela não conseguiu nem se despedir de seus familiares. Lá chegando, deu-lhe uma surra, tão grande, tão terrível que ela perdeu o bebê que esperava. 
Depois disso ficou acamada por alguns anos e cada vez mais fraca, mais fraca, mais fraca. Sua cunhada cuidava dela, apesar de tudo. Ela não conseguia mais comer nada sólido, pois seu sistema digestivo estava destruído, tal qual seus dentes. O marido rezava para que morresse logo e lhe desse sossego. Ela também rezava para partir logo, com as forças que restavam para falar, ela só repetia ao homem “Assassino! Assassino!”. 
Na noite anterior, ela olhou para a janela de seu quarto e pediu para que a cunhada abrisse. E ali ela viu seu amado malandro sentado, agora vestido com seu terno branco com um cravo vermelho no bolso, sorrindo para ela.
Ele disse a ela que aguardasse, pois na próxima vida eles iriam se encontrar de novo e a vida haveria de ser o que não pode ser naquela. Disse que a espiritualidade renagada por ele seria o fio condutor para o próximo encontro. Ele lhe jurou amor, por todas as vidas que mais houvesse.
Ela sorriu singelamente. Exu bateu nas costas do malandro e eles desapareceram. Ela deu um suspiro e ouviu atabaques tocando bem longe. Fez sua prece da noite e pediu outra vez para que Deus a levasse.
Suas preces foram atendidas e naquela manhã de outono, ela não mais acordou.
Acordou, quem sabe noutra vida e a essa hora, pode ser até que os dois já tenham se reencontrado, tenham filhos, se amem livremente como não puderam outrora. E assim, termina esta tragédia brasileira, suburbana, numa quarta-feira de cinzas, depois da missa. Amém.

segunda-feira, 15 de março de 2021

Pra Tua Festa, Não Me Covid

Bom dia, seu otário
Tá com saudade do rolê,
Mas, não se importa se vai ter
O seu próximo aniversário.
Se fosse só você
Furar a pandemia e só morrer
Aí tudo bem
Você teve autonomia pra escolher
E essa sua egoísta covardia
Mata tua mãe, meu pai e a outra tia.
Diz que tem saudade do rolê
Mas, desde quando? Cê tem certeza?
Vi você dançando com um copo de cerveja.
Cheio de amigos sem máscara
Porque está claro pra quem viu
Um otário, solitário, querendo ser aceito
E tua máscara caiu.
Os leitos estão lotados
E você pode ter dinheiro pra comprar a cloroquina
Pense: se tua mãe pegar corona,
Vai morrer na fila, na esquina.
Um vírus pelos corpos
Um verme no poder
Quase 300 mil mortos
E você sorrindo, bebendo no rolê
E você é a bactéria do sistema
Transmissor da ignorância
"Se eu pegar não tem problema"
Olha o tamanho da arrogância
Você me dá ânsia!
Saudade de aglomerar,
Vontade de morrer
Vontade de matar
Não se posiciona claramente
Tem uma reputação a zelar
Mas, já sei quem é, de fato
E sei de que lado está
Nega a dor dos outros
E se acha especial
Seu egoísmo é grosseiro
Não está tudo normal.
No fim das contas, eu só acho
Que só tem uma explicação
Se esforça para ser quem não é
Para curar as feridas de um abandonado coração
Marcas de um passado repleto de rejeição
Não tem nada a perder, desafia a morte
Triste fim, gole de cerveja
Para espantar a solidão
Gole de covid
E você continua parado, caído,
Bem no seu velho lugar
O chão.

domingo, 15 de março de 2020

Almar

Quando duas almas se reencontram, o tempo-espaço é recortado e cria-se uma nova atmosfera ao redor dali.
Surge um novo estado de espírito, sintonizado nas mais altas frequências energéticas.
É um amor de alma... quiçá possa ser chamado de "almor".
Quando minha alma toca na sua, eu te almo e isso é tão grande que o universo sorri e aplaude! Eu almo! Eu te almo!
[Edson Teles]

sábado, 28 de dezembro de 2019

É Preciso

É preciso abrir os canais do amor e da empatia para que a água da vida jorre...
É preciso enxergar o outro... 
É preciso se enxergar no outro... 
É preciso que nos olhemos profunda e amorosamente...
É preciso entender-se, não pronto, mas, em constante evolução, construção, desconstrução e reconstrução...
É preciso olhar ao outro assim também!
Ninguém sai da vida intacto, incólume. 
Estamos juntos e somos pedaços de um todo. 
Cuidemo-nos, é preciso!
Curemo-nos, é preciso!
[Edson Teles]

terça-feira, 11 de junho de 2019

Canção Para Depois Que Eu Voltar

Deixe o meu prato posto
Lave as minhas roupas brancas
Quero usar meu panamá de fita vermelha
Tire os pés da minha cadeira
É lá que irei me sentar
E comer e beber e cantar
Arrastar tudo ali para poder dançar
Foi tão de repente
Foi cedo demais
Não deu tempo de entender direito
Quando me vi já não havia nada
Chamei, gritei, chorei, calei
Se eu soubesse que seria assim
Teria te abraçado outra vez
E teria dedilhado no violão
Aquela canção que eu fiz pra você
Me perdoe a pressa
Mas, foi preciso
Qualquer dia eu volto
Pode ser que não me veja
Por isso peço que sinta o vento em seus cabelos
Eu estarei ali
Boa noite, durma bem
Não se esqueça, não me esqueça,
Não esquente a cabeça
Tudo voltará ao seu devido lugar
Deixo esta singela canção
Para quando eu voltar.

domingo, 9 de junho de 2019

Morrer

Tudo vai ruindo
Se desconstruindo
Acabando, sumindo
É a vida se esvaindo
Por entre os dedos
E lá se vão os medos,
Os receios e os anseios
Os sorrisos e os choros
Lá se vão os suspiros,
Os gemidos, os latidos de cachorro
Que cortavam as madrugadas
E lá se vai a insônia
A fome, a razão, o calor,
O frio...
Esse não vai passar
Debaixo da terra deve ser bem frio
Frio e sem graça
Ainda bem que o espírito se desprenderá
E eu vou ter que aprender a voar
Pra quem sabe
Uma hora dessas renascer
E viver
E se decepcionar
E voltar a ruir
E tornar a morrer...

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Instantes

Somos instantes
Ninguém é pleno o tempo todo, nem nunca será...
Somos instáveis
Basta o tempo fechar pra tempestade cair no nosso copo d'água...
Somos evoluintes
Incompletos de nós mesmos, sem a necessidade de sermos o outro...
Somos o outro
Mas, só quando aprendemos a nos olhar profundamente nos olhos...
Somos tudo isso e mais um pouco,
No mínimo, o máximo!
Somos efêmeros
Duramos apenas um instante e o resto é silêncio.
E o que vale são as vezes em que sorrimos e perdemos o fôlego entre o amanhecer e o anoitecer,
Entre o nascer e o partir...
Morrer.
Quantas pessoas você viu nascer? Quantas viu morrer?
Quantas te veem? Quantas te ouvem? Quais delas te fazem sorrir? Quais fazem chorar? Quais fazem sonhar? Quais te matam?
Por quais você morre?
O que é a vida?
A vida é efêmera, pois nós somos instantes.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Desvanecência ou O Sumiço de Mim No Teu Eu

Escute metade daquilo que falo
Mas, não ignore o inteiro que sinto...

Eu me importo
Me transporto
Mas não suporto
Desvanecer
Esvair

Estou me acostumando com o que não devia
Ausência
O presente que ganho a cada dia
É a ausência
Em breve sinto que também estarei ausente
E no lado em que eu dormia
Haverá meu vazio
Um bom vazio
Para quem está cheio de si...

Estou indo
Me esvaindo
Sumindo...

segunda-feira, 2 de maio de 2016

8 de Fevereiro

Raios, trovões e lágrimas
Sempre chove no dia oito
Sempre choro em fevereiro
E o carnaval outra vez acabou antes da quarta-feira
E tá tudo cinza faz dias
E tá tudo chuva faz horas
E tá tudo choro pra sempre
Perdi o jogo e agora?
Redefinir faz parte da rota?
Desanimar faz parte da luta?
Mas aí me vem esse loop de fevereiro
É tão difícil estar feliz por um ano inteiro?
Não eram as águas de março que fechavam o verão?
Lá vou eu juntar os cacos do meu coração
Que batia feliz quando te via
Só que não chovia, neste dia
Pelo menos chovendo assim
Não vai ser fácil perceber que eram lágrimas
Não vai ser fácil me esquecer daquela música
Vou querer sempre reviver esta outra época
Mesmo que sempre acabe assim, meio dramático, atônito
Mesmo que seja este meu choro um tanto trágico
Mesmo que eu fosse este poeta meio sarcástico
Que ri da morte de si mesmo, assim tão cínico
Quem dera fosse um cantador pra fazer música
Ou te abraçasse por seu medo de relâmpagos
E te olhar mais uma vez de forma cênica
Te roubo um beijo e te ofereço um amor límpido, esplêndido, platônico
Você me acorda e era só um pesadelo
Cara de choro, chuva na cara, tá no espelho
Dia ruim, este outro oito de fevereiro...

sábado, 30 de abril de 2016

Estações São Coisas Passageiras, Desça Na Que Achar Que Te Apetece

Desce na
Desce na
Desce na próxima
Desce na próspera
Desce na próxima estação
Estas são
As minhas recomendações

De cena
De cena sair
Desconstruir
Desatar
Decida
Decidida
Descida ao inferno
Decida ao inverno
Sair de cena
Descer na próxima
Descida ao inferno
Próximo desce
Próximo desse
Próximo deixe
Afaste-se

Perigo
Saída à esquerda
Próximo desce
Saída de cena
Descida na próspera
Decidida ao inverno
Invenção da lágrima
Placas invertidas
Caminhos dispostos em direções opostas
Siga em frente
Siga, enfrente
Levante a cabeça
Esqueça
Se aqueça e só
Se aqueça só
Desça...

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Sobre as Intermitências da Vida e o Que Vem Depois

Eu sou grato.
Mas, não sou obrigado.
Não sou obrigado a desistir de sonhar. A desconstruir a minha autoimagem no espelho e não reconhecer a força daquele que vejo, e dos muitos homens e mulheres que misturados formam-me assim, como sou, forte.
Me recuso a fazer dos tropeços uma desculpa para desistir.
Me recuso a seguir por caminhos que não são meus e a carregar pessoas que também não me pertencem.
Renuncio ao desejo de morrer sem antes ter me tornado um vivente pleno e completamente realizado, de corpo, mente e espírito.
Enquanto há vida, há e haverá ainda o desejo de viver. É um compromisso que assumi quando vim para este mundo.
Me coloco disponível para honrar o presente mais precioso que recebi, com todo o amor, de meus pais... a vida! A minha vida!
Me coloco disponível para passá-la para frente também com todo amor, assumindo todas as consequências.
Abro meu peito para que o amor entre e saia, para que eu dê e receba. E amo, profundamente
àqueles que se põe disponíveis a receber este amor.
Me coloco disponível e no meu lugar para exercer minhas verdadeiras funções como pessoa, homem, ser vivente, criativo, transformador, apto para continuar na construção diária da felicidade.
Já chorei cântaros e me orgulho de cada lágrima.
Mas, opto hoje por chorar emocionado após ouvir uma bela canção ou me alçar diante da singeleza do voo de uma borboleta.
Houve dias em que me afastei disso tudo, sim. Inclusive da gana de ver o amanhã, ou mesmo o próximo segundo, de sentir a próxima respiração.
Todas as minhas células se estremeceram e eu optei por ficar. Não me deixei ir embora.
Sei que os caminhos que ainda virão serão cheios de desafios e possíveis quedas. Mas, me concentro em me levantar sempre e me sentir muito bem com isso.
Eu sei quem fui e o que vivi.
Sei o que sou e o que estou vivendo.
Sei que o futuro pode parecer incerto, mas, sei onde quero chegar... no infinito, romper as barreiras do impossível e ir além.
Isso tudo que escrevi pode parecer apenas palavras soltas, palavras velhas. E pode ser que sejam mesmo, mas, uma única garantia eu tenho, de que são verdadeiras.
E neste enredo, só posso me sentir hoje a melhor pessoa do mundo (e sei que sou), apto para alçar novos voos feito borboleta e ser feliz. Eu honro a vida e passo-a à frente com todo amor.
Eu sou grato.

terça-feira, 16 de junho de 2015

A Menina do Trem

Estava no trem.
De Pirituba para a Luz.
De um lado uma menininha de uns 4 anos com a mãe, do outro a avó.
Trem quase lotado. A brincadeira dela era atravessar o trem em movimento.
Ops... tropeçou numa moça que olhou feio e pisou no meu pé.
Eu já fui criança também. Olhei-a e abri o maior sorriso.
Sei que o pisão foi sem intenção. Ela brincava. Eu sorri e ela sorriu.
Se desculpou com a gentileza de um sorriso singelo.
Ah, se os adultos conseguissem se lembrar disso de vez em quando...


* Ocorrido em 25 de maio de 2015

Sobre a Suposta Imobilidade Humana

As árvores.
As árvores estão lá.
Lá, plantadas.
Imóveis.
Imóveis?
Elas se movimentam!
Crescem...
Enraizam...
Balançam com o vento...
É por causa do vento, você irá me dizer.
E eu te direi que sim, que sei.
E você?
Você também se encontra imóvel.
Por que recusa se balançar ao vento?
Qual é o vento que te balança, afinal?


sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Prece ao Inimigo Assumido Mas Não Declarado

Não me engano por sua fala macia ou por seu olhar manso, bondoso, quase misericordioso, quase santificado.

Não me engano pelo abraço amigo que finge dar, pelo riso forçado pra minha piada sem graça.

Não me engano pela pele de cordeiro que esconde a fera violenta, raivosa, invejosa que é você.

Egoísta e egocêntrico, adula àqueles que não te oferecem risco ou que te podem trazer benefícios e sabota quem te supera.

Faz de tudo para que todos te adorem, mas nem todos fecham os olhos sob as suas canções de ninar.

Quando ouso falar contigo engulo o gosto ruim da sua aura obscura e temo. Não sei o tamanho de vossa maldade camuflada de benevolência.

Não sou inimigo seu, não te odeio, não te invejo, nem guardo rancores de você. Mas, sei da não reciprocidade.

Peço hoje, oh criatura, quando me encontrar por aí, desvia, quando ouvir falar de mim, desvia.

Pessoa nefasta, se afasta, desvia, não me veja, não esteja, não seja.
Que assim esteja, que assim seja, amém.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Hei de Morrer do Coração

Para os males do corpo, remédios, repouso...
Para os males do espírito, reflexão, meditação, oração...
Para os males do coração, paciência...
Essa porra dói mesmo, implacavelmente...
Rir das próprias mazelas é o que resta ao palhaço
Escrever sobre os próprios malogros é o que resta ao poeta...
Chorar é o que resta aos olhos...
Paciência, paciência, paciência...
Hei de morrer do coração antes de me acostumar com a paciência,
Antes de me habituar com a ausência...

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Outro Dia Eu Me Encontrei II

Era noite quando caiu.
A queda fez com que olhasse pra cima e visse a si mesmo lá embaixo, estendeu-se as mãos.
Com dificuldade levantou-se e caminharam de mãos dadas até o sol nascer novamente.
Dessa vez não dançaram, nem se abraçaram.
Ficaram apenas contemplando.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Manifesto Marginal

"Podem até maltratar meu coração, que meu espírito ninguém vai conseguir quebrar..."
(Renato Russo)


Daqui da margem eu vejo
Vejo o lago, que outrora fora de águas cristalinas
Vejo os que se banham nele
Vejo o lago secar
Vejo os que se banham nele
Senhores feudais, capitães-do-mato, bobos da corte
Vejo seus corpos sujos da lama mais suja
Até o pescoço
E do pescoço pra cima ostentam sorrisos amarelos
E gritos de ordem
Que daqui da margem eu faço questão de não ouvir
Afinal, estou na margem...
Daqui da margem eu vejo
Vejo os capitães-do-mato perseguindo os que ainda tentam lutar, em vão
Vejo os senhores feudais contando seus vinténs
Vejo os bobos felizes ostentando suas migalhas
Vejo a miséria que suas ganâncias atraem
Vejo a lama se alastrar por onde passam, feito um tumor
Vejo a morte dos sonhos que não chegaram à margem
Vejo a morte dos corpos enfermos
Ouço as gargalhadas dos senhores
Mas, não sinto seus bafos de enxofre
Que daqui da margem eu faço questão de não sentir
Afinal, estou na margem...
Daqui da margem eu vejo
Vejo outros tantos marginais
Impedidos de nadar nos grandes lagos (hoje verdadeiros lamaçais!)
Mas, que aprenderam a chamar chuva
Chuva que vem do céu e purifica
Limpa os rancores, os ódios e atrai o bem
Que faz brotar na terra mais amor
Que faz brotar na mente novas ideias
Que faz nascer uma fonte marginal
De água cristalina, que jorra sem cessar
Água que é compartilhada entre todos nós, da margem
Água de gosto ruim para os senhores e os seus
Eles tentam parar a fonte e mais ela jorra
Tentam calar a voz e mais ela canta
Afinal, estamos na margem...
Daqui da margem eu vejo
Vejo o passeio da lua, o brilho das estrelas e sinto o calor do sol
Vejo sonhos, impensados no lamaçal, se tornarem realidade na margem
Vejo o nascimento de verdadeiros heróis...
Daqui da margem eu vejo
Aqui na margem eu vejo
Aqui na margem eu sinto
Aqui na margem eu não me escondo
Eu faço!
Blindado por cristal, mas, feito de aço
Não durmo, vejo tudo
Vejo o declínio do feudo
E a ascensão de um novo tempo
Pois então
Seja marginal, seja herói...

Saudade Todo Dia II

Eu sou nostálgico
Naturalmente cheio de saudade
Um saudoso incorrigível
Sinto falta até de coisas que não vivi
De lugares que não conheci
De rostos que não vi
De livros que não li
De abraços, de beijos, de olhares que não dei
Mas, choro de saudade em silêncio
Não preciso ficar destilando à revelia.
(...)
Não guardo mágoas, raivas, ódios
Só lembranças boas
Não vivo de passado
É o passado que vive em mim
Me impulsionando a novos voos
Que decerto ficarão na memória
E serão saudade algum dia...
Afinal, como já disse outrora
Sinto saudade todo dia...

quinta-feira, 13 de março de 2014

Elegia ao Silêncio

Singelo
Simples
Significativo
Sincero
Sintomático
Sinistro
Simbólico
Sintético
Sintático
Simpático
Siléptico
Sim, és tu

Silêncio!

Outro Dia Eu Me Encontrei

Outro dia eu me encontrei
Me encontrei comigo mesmo
Fiquei tão feliz
Há anos que esperava este momento!
Eu tremi, suei frio, respirei fundo,
Foi o melhor abraço que ganhei da vida
Olhei no fundo dos meus olhos
E me tirei pra dançar...

domingo, 5 de janeiro de 2014

Provérbio II

Seja gentil
Seja caridoso
Seja bom
Mesmo que de olhos fechados.
Não espere nem mesmo que te agradeçam.
Não conte nos dedos aqueles farão algo por ti
Sobrarão muitos dedos em uma mão.
Escolha presença, quando te oferecem presentes.
Sorria gratuitamente e não espere que lhe retribuam.
Não espere nada de ninguém,
Não crie expectativas sobre os outros
Assim evitará decepções.
Procure não se sintonizar com as energias dos problemas
Eleve-se para encontrar a solução.
O desespero nunca soluciona nada.
Pense antes de falar.
Fale o necessário.
Respire fundo.
Cante.
Não espere aplausos.
Encontre-se.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Ando Vendo Borboletas

Ando vendo borboletas
Para o lado que olho sempre há uma ali voando
Ando vendo borboletas
E elas andam vendo que lhes quero bem
Ando vendo borboletas
Soltas, livres, simplesmente borboleteando
Ando vendo borboletas
E tenho a certeza de que elas me veem

Enchem meus pulmões de ar
Enchem minha cabeça de sonhos
Enchem meu coração de esperança
Enchem meus olhos de alegria
E acalmam o meu espírito diante das inquietudes da vida

Ando vendo borboletas
E a liberdade que eu ganho em vê-las me deixa voar
Ando vendo borboletas
E esqueço que nenhum problema é maior que a solução
Ando vendo borboletas
E fico pleno, satisfeito, com vontade de cantar
Ando vendo borboletas
E encontro o equilíbrio entre a razão e a emoção

Ando vendo borboletas
Borboleteio vendo os andares
Ando borboleteando as vistas
Vejo andares borboleteantes
Borboleteio as vistas de quem anda
Vejo borboletas andantes
Ando vendo borboletas
A pequenina do rosal
E a que faz chocolate para a madrinha
Ando vendo borboletas
E elas fazem com que eu me liberte
Com que eu transcenda
Com que eu evolua
Com que eu cresça
Com que eu pare para vê-las...

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Amor, Amor

Para Elis e Alice

É linda a sensação
De ser alguém,
Parte de você,
De serem vocês partes também
De um outro alguém
A quem tomei como face
Perfeita e encantante
De um sentir sagrado
Onde qualquer ausência
Dupla, tripla ou una
Faz desdobrar aqui no peito
Um papel azul clarinho
Com letras amarelas
Desenhando saudade
Me fazendo lacrimar...

Amor incondicional
Quiçá exagerado
Instinto protetor
Amor, amor
Profundo qual o mar dos olhos seus
Onde mergulho, encontrando-me
E explodo num sorriso
Ao seus jeitos de sorrir
Lhes canto minha alegria
Seus caminhos de dormir
Lhes faço poesia e primavera
Na espera dia a dia
Dos seus dias de florir
Feito a linda flor
Que lhes guardou, sementes
Paciente e lhes trouxe à luz
Minha sensação mais terna de amor...

Minhas pequenas
Minhas grandes
Minhas ilhas
Primaveras, verões
Emoções
Maravilhas
Canção de coração
Canção de Elis
Canção de Alice
Canção de amor
Amor de filhas...
 

(Texto de Fevereiro de 2011)

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Não Devo Discutir Com Idiotas!

Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!

Repetindo feito um mantra
Em minha alma há alguém que canta
Canta contra os instintos primitivos
Que me faz matar os inimigos
Jogando meu veneno pela boca
Proferindo frases duras com voz rouca
E tremendo com a ira à flor da pele
Tentando frear a força que me compele
Exausto de palavras eu repito
Para que meus ouvidos ouçam, então eu grito
Buscando me livrar do que incomoda:

Não devo discutir com idiotas!


terça-feira, 2 de abril de 2013

Pequenas Tragédias Cotidianas Nº3

É uma dor que não doi. Sufoca. Aperta. Estrangula.
Um nó na garganta. Uma vontade de chorar. Muito.
Chorar durante horas. Dias. Chorar até cansar.
Rios, mares, represas. De lágrimas bem choradas.
Angustiado, aflito. Sei que meu grito não será ouvido.
Por mais que seja alto. Por mais que seja forte.
Por mais que eu não queira a morte. Por mais que...
Vou pular...
Não adianta...
Mais...
Não adianta mais...
Sem saída...
Sem rumo...
Sem prumo...
Sem forças...
Vou ser capa. Deitar na maca. Morto babaca.
Se desfazendo de sua própria vida.
E escrevendo uma carta suicida.

[Salto]





{Queda}

"HOMEM PULA DO VIADUTO E SE ESTATELA NA AVENIDA SOB O TRÂNSITO CAÓTICO DA CAPITAL PAULISTA E CORPO DESAPARECE DEBAIXO DOS PNEUS."

domingo, 31 de março de 2013

Pequenas Tragédias Cotidianas Nº 2

Tarde. Verão. Pôr-do-sol.
Vestido. Sandálias. Barba. Chapéu.
Ondas. Luau. Areia. Céu.
Canção. Violão. Sorrisos. Paixão
Cheiro. Gosto. Rosto.
Tato. Olfato. Paladar.
Mãos. Cabelos. Pelos.
Gemidos. Suspiros. Banho. Mar.
Tempo. Distância.
Barriga. Criança.
Ausência. Falta. Fome. Dor.
Dinheiro. Juiz. Cadeia.
Revolta. Fuga. Briga.
Sangue. Morte. Fim

quinta-feira, 28 de março de 2013

Pequenas Tragédias Cotidianas

Morrera de frio numa madrugada de outono há muitos anos, mas, preferiu, se é que era possível preferir, não sair daquele mesmo lugar. Continuou do mesmo jeito, na mesma posição, com o mesmo aspecto durante um longo tempo.
Desencarnou de um lugar onde já não havia carne, eram ossos apenas e uma pele dura. De sol a sol, de pó a pó, de frio a frio.
Em vida, já era um fantasma. Não tinha noção de horas, dias, anos, nome, endereço, família, nada. Não tinha lembranças.
Nos últimos tempos já nem se lembrava como era falar, depois de tantas tentativas, sem sucesso, de ser ouvido.
No início ainda tinha consciência, quando sóbrio. Lembrava-se de onde vinha e porque estava ali. Mas, o tempo foi passando e foi se criando uma consciência flutuante, que servia apenas para os fatos recorrentes em seu dia-a-dia nas ruas.
E um dia resolveu se instalar na esquina de uma rua movimentada, sob a porta de uma velha padaria que não funcionava mais. Ali ficou cumprindo sua pena de vida. Ainda neste tempo a chuva o incomodava.
O papelão que servia de cama, depois de uma chuva que durou quase uma semana, grudou-se em seu corpo. Fixou-se em sua casca. Ele não era negro, nem branco, nem pardo, nem bugre. Era da cor da sujeira. Da cor do chão. Do limbo. Do chorume. Fedia.
Algumas semanas antes de sua passagem teve momentos de lucidez e tentou se levantar. Não conseguiu. Tentou gritar, mas, sua boca sequer abriu. Decidiu que este mundo já não servia para si.
Mas, quem disse que ele poderia decidir algo? Quanto mais sobre si, se ele mesmo já nem existia há tempos. E foi morrendo aos poucos.
O corpo apodrecido pela vida jazia ali aos pés dos transeuntes e ninguém percebeu quando o coração não batia mais. Quem ia se importar? Era só mais um.
O corpo se foi. O que restou ficou por ali, na mesma posição. Sem acreditar em nada, sem querer mudar. Não assombrava, não atormentava, não se encostava em ninguém. Esperava sem esperança, esperava sem esperar.
Diante da ideia que lhe deu na cuca sobre a imortalidade da alma ele riu e disse pra sua própria ideia que aquilo era bobagem. Onde já se viu?!
Quando ouviu sua própria voz, tomou um susto. Resolveu se levantar e saiu caminhando em busca de alguma resposta, em busca de alguma luz.

segunda-feira, 25 de março de 2013

História de Filme Que Deixa a Gente Com Raiva no Fim

Ele gastou horas escrevendo o e-mail perfeito. Checou e revisou todas as palavras e ideias mais de dez vezes. Ela já o recebeu, mas, deixou pra ler mais tarde. Não deu tempo.
Ela estava saindo para o almoço quando o inesperado fez um surpresa. Um vagabundo qualquer que liderava um bando de bandoleiros do asfalto quente pegou-a pelo braço e disse "nós vamos ali, neném!".Seu coração faltou sair pela boca, nunca havia suado tão frio na vida. O cara saiu rua afora arrastando-a e ela num misto de medo e vontade de gritar, seguia a trilha sem titubeios.
Nunca tivera se sentido tão segura na vida. O vagabundo canalha tinha uma pegada, mil vezes maior do que a do frouxo do namorado. Que perdia tempo com imbecilidades do tipo flores e poesia. Esse não, era diferente, era másculo, forte, poderoso.
Envolta em pensamentos quase eróticos, ela chegou no cafofo, onde outros homens armados fizeram reverência ao rei. "É aqui, neném, tá afim de morar aqui comigo? Largue toda a sua vidinha de almoço de domingo-parque-missa. Grana, segurança, pegada forte e tudo o que você achar que tem direito nesse mundo. Tá afim?"
Ao invés do bandido, quem se rendeu foi a refém e caiu na cama do crápula.
Enquanto isso, o namorado esperava uma resposta. E esperou e chorou todo o tempo em que a polícia  a procurava, a família se desesperava com o sumiço repentino da moça de família que se foi com um vagabundo qualquer raptada na hora do almoço.
Uns choravam e ela comemorava. Virou a primeira-dama do crime, aprendeu a atirar, fumar e outras coisas que não convém contar. Tornou o vagabundo um empresário do crime, mudou seu guarda-roupas e sua forma de falar. Fez o negócio prosperar.
O ex vagabundo já estava tão feliz com os negócios que sonhava em largar o crime. Mas, toda que essa ideia lhe passava pela cabeça e escorria-lhe pelos lábios ela dizia "Tá querendo fuder o negócio, pô? Vou estourar sua cabeça na próxima vez em que cogitar honestidade nesse lugar!"
Ele chorou. Aquele que no começo do texto eu tratei de vagabundo e que a esta altura do campeonato tornou-se ele, chorou.
Foram se deitar. Já fazia dois anos que o tal do ex namorado havia mandado o e-mail e até agora ela não tinha aberto ainda e ninguém sabia por onde ela andava.
Naquela noite, o homem durão, cheio de pegada, que fazia e acontecia, havia chorado. Não se sabe se era raiva, vontade de voltar no tempo e não agarrar ninguém na rua, não se sabe.
"Seu porra, pega um drink pra mim"
"Seu porra? Seu porra?" Aquelas palavras fizeram a cabeça dele girar. E ele caiu, teve um acidente vascular cerebral. Morreu ali mesmo. E ela disse aos empregados "Seus merdas, tirem esse porra daqui! Joguem no lixo, toquem fogo, mas, não quero mais saber dele, morreu, morreu, que deuzutenha!"
Resolveu ir ao computador do falecido e abrir sua velha caixa de e-mail. Quando viu aquele com título "Com Todo o Amor que Houver Nessa Vida" e o remetente sendo o ex namorado, uma lágrima escorreu, ela deu um quase sorriso e clicou para abrir o e-mail. A polícia chegou trocando tiros com os capangas, agora dela. O primeiro atingiu o monitor do computador, o segundo sua testa. É, não deu tempo.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Provérbio

Não idealizes ser sol
Se és estrela-do-mar
Mesmo que te esforces
Nunca, o sol, serás
Brilhe tua própria luz
Sê estrela,
Assim o brilho d'outra
Não te ofusca
Faça da tua busca
Algo bom de se sorrir
Não te entristeças
Pelo vencedor
Ganhe tuas guerras
Vá pela senda do amor
Principalmente do auto-amor
Não invejes
Mesmo emanando negatividade
Nunca serás o outro
Nunca estarás no lugar dele
Nunca sorrirás seus sorrires
Nunca dormirás seus sonos
Podes destruí-lo
Mas, nunca sê-lo
Levanta-te, invejoso
Não rastejes,
Mata a víbora
Que se alimenta de ti
Mata-te e nasce de novo
Renova-te!
E não invejes!



segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Homo Sapiens?

O ser humano anda tão desumano, tão cruel, tão irracional, tão descivilizado que chamar alguém de humano é praticamente uma ofensa, um despautério.
A coisa anda tão feia que, em breve, os animais andarão pelos corredores das cadeias jogando amendoins e tirando fotografias.
Levarão seus filhotes para passear aos domingos, para ver os humanos em suas jaulas.
E neste dia haverá rebelião. Os humanos não aguentariam ser ridicularizados, terem seus egos feridos.
Só que a rebelião ficará da grade pra dentro- eles não teriam coragem de sair e enfrentar os gorilas e elefantes.
Como de costume, queimarão colchões e morreriam asfixiados ou queimados. Todos, um por um, produzindo um hecatombe.
E isso ia se repetir a cada domingo, em todos os presídios onde todos os seres humanos estariam presos (ou será que alguém estaria livre das mazelas humanas e afim de trabalhar sua animalidade?).
Quando todos os humanos estiverem extintos, haverá paz e a natureza poderá se tranquilizar e ser curtida à vontade.

[...]

E você o que faz pra ser mais animal? Ama? Respeita? Cuida?

Ego Rude

Magro, parecendo um lobisomem... 
Descalço, pés sujos... 
Que asco eu sentiria se não fosse este um músico... 
Que asco eu sentiria se não fosse um mítico... 
Que asco eu sentiria se não fosse um mágico... 
Que asco eu sentiria se não fosse no mínimo: eu... 
Não, não sou o máximo... 
Talvez um cara prático, 
quase nada plástico, 
que se faz de elástico pra dobrar táticas bélicas e patéticas 
de tornar metódicas as coisas poéticas 
e o orvalho cíclico que nos deixa atônitos, me olha de soslaio e sorri irônico... 
Cínico! Mágico! Trágico!

Saudade Todo Dia



Saudade é o nome daquele tempo.
O tempo que deixou de acontecer faz tempo
E há tempos vem acontecendo em mim
Botando o coração aos pulos
Escorrendo sorrisos pelas lágrimas
Saudade é um tema lindo de se chorar.
Saudade não é querer viver tudo de novo.
É a alegria de estar  vivo ali
Naquele tempo-espaço-cheiro-gosto-rosto-imagem-som.
Saudade é uma foto que não foi tirada
Mas, não sai do álbum da memória
Sempre cheia de sorrisos, joelhos ralados, bolo com café
A saudade humaniza os nossos corações
Surge e desestabiliza tantas emoções
Lembra de todas as velhas desilusões
A saudade é o caminho pra se fazer canções
A saudade é o caminho pra se fazer canções
Sei lá o que é saudade,
Pode ser uma saudação à idade
Que insiste em avançar, deixando tudo para trás
E criando outras histórias,
Novas fotos, beijos, bolos de cenoura
Que ainda hão de ficar na saudade também.
Mais um dia que termina e eu me pego pensando
Como este ano passou rápido, meu cabelo cresceu
Minha barba tá enorme, amanhã é natal
Sinto falta da minha vó, sinto saudade todo dia.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Proparoxítonas Soltas

Utópico e tímido
Fez-se lívido, pálido, esquálido
Quiçá inválido
Quando ouviu a tal música
Feita pra deixar atônito
Todo sentimento sórdido
Pra sair de forma trôpega
Precisando tomar fôlego.
E quem tiver ideias flácidas
Sentirá queimar o estômago
Agirá como um sonâmbulo
Retumbantemente impávido
Caminhará pela necrópole
Tomará pra si a lápide
E escreverá seu texto último:
O tolo ri-se sem estímulo
E toda gente acha o cúmulo
Mas, a nobreza tange o espírito
Dos que buscam ser o único
O único a tornar-se célebre
É o bobo que chora ouvindo música.

Cinquenta Marrons de Bosta (A História Trágica de Jarbas e Leila)



AVISO: SE ACHOU O TÍTULO UMA BOSTA, NÃO CONTINUE LENDO!

O TEXTO TENDE A SER PIOR! E O FINAL, PODE ESPERAR, SERÁ NOJENTO!
LEIA O PRÓXIMO TEXTO QUE PODE SER BEM MELHOR QUE ESTE!


Jarbas teve uma infância normal. Era um garoto estudioso e feliz. Até o dia que marcou sua vida para sempre.
Naquele fatídico dia, Jarbas chegou da escola, adentrou a sala e ouviu gritos de sua mãe. Seu pai, tal qual o pai do doutor Sabino (já leu Nelson Rodrigues??), morreu em meio a um mar nojento e marrom. Não teve nem a oportunidade de ter, como ato derradeiro, o apertar da descarga. Esse foi o primeiro marrom que Jarbas guardou em sua memória de menino de 12 anos.
A cena chocou. Obsecou. Parava horas a fio observando os cães fazerem suas necessidades na rua e depois se aproximava pra ficar contemplando. Analisava cor, tamanho, cheiro, textura.
Jarbas foi crescendo e ganhando novas manias ao redor do fétido assunto. Uma delas era ouvir pessoas fazendo o popular número 2. Quando era possível até gravava os sons e ficava ouvindo, ouvindo, como se fosse música clássica.
Gostava também de espiar este ato sublime e íntimo. Qualquer oportunidade que tinha ou grudava o ouvido na porta ou o olho na fechadura.
Mas, ao mesmo tempo, carregava em si um medo tamanho de morrer feito seu pai.
Nas suas horas, tidas como sagradas, eu sempre seguia o mesmo ritual: lavava as mãos antes e depois, sempre levava consigo algo reconfortante para ler e uma garrafa d'água. Nunca tinha contato direto com o vaso sanitário, forrava-o com muito papel higiênico, talvez pra se preservar de ser contagiado pelo mal do pai cagão.
Jarbas, terminou o colégio, fez faculdade: biologia. Especializou-se em estudar as formas de excreção no reino animal.
Já tinha mais de 25 anos quando teve sua primeira namorada. (Outras vezes teve apenas romances curtos com diversas garotas, que normalmente o abandonavam por conta de algumas excentricidades. Observar cocôs de cachorro, por exemplo.)
Leila era linda, corpo escultural, inteligentíssima, simpática, conquistou Jarbas num primeiro contato. Claro, tinha que ser na porta do banheiro do shopping, enquanto ambos esperavam seus irmãos mais novos.
Jarbas era um gentleman, apesar de tímido e de se esconder por detrás dos óculos e da barba rala, sabia bem como falar às mulheres.
Começaram a namorar muito rápido. Paixão quente, fumegante, feito... enfim, deixa pra lá.
(...)
Num dia, Jarbas foi visitar Leila, que estava sozinha no apartamento que dividia com a irmã mais nova e uma prima do interior. Ela vestia uma camisetinha branca curta, que deixava a barriga à mostra e um shorts jeans, feito com uma velha calça desbotada. Ele uma camiseta branca básica e um bermudão cáqui. Quando a viu, desejou-a mais que em todos os outros dias. Ela sabia como provocá-lo e aquela era a grande oportunidade de se "conhecerem melhor".
Em poucos minutos já estavam nus se olhando. Ele deu passos à frente e sorriu, um sorriso nunca visto antes por ela.  Leila disse: já volto! E ele ficou atento, pode ser que ela fosse ao banheiro. Ao perceber que se tratava de problemas gastro-intestinais, correu à porta do banheiro. Entrou sem bater.
Leila deu um grito e tentou se esconder entre seus braços. O cheiro estava terrível e ela morrendo de vergonha. Jarbas estava louco. Olhos arregalados. Mãos trêmulas. Quase babava. Foi a primeira vez em quase 15 anos que vira alguém vivo no ato sublime da defecção.
Empurrou Leila para o lado, ajoelhou-se na frente do vaso e contemplou, ficou horas ali. Ela ainda tentou apertar a descarga, mas, ele impediu-a com o olhar apenas. E ela ficou em estado de choque, com a bunda colada no box. E ele ali estático. Plástico. Cínico. Clínico. Ilógico. Irreal. Imaterial. Inerte.
Passava das dezenove horas quando Leila saiu de seu transe e viu que Jarbas continuava ali. Ela saiu devagar, na ponta dos pés. Trancou a porta do banheiro. Vestiu-se e saiu.
Por volta das vinte e duas horas, ela voltou com a mãe dele, dois policiais e três amigos. Abriram a porta e...
Jarbas havia desaparecido. Não existia essa possibilidade, a janela era pequena e tinha grades. A porta não tinha como ser aberta depois de trancada por fora.
Mas, um fato intrigou os presentes: o vaso estava vazio.
Será que Jarbas fora sugado pelo vaso sanitário do apartamento de Leila?
Vasculharam o apartamento. Verificaram as câmeras dos corredores. Nem sinal de Jarbas.
(...)
Leila foi presa, acusada de assassinato e ocultação de cadáver.
Em momentos de grande tensão ela sofria com as pressões intra-intestinais, e assim que chegou à carceragem viu-se sem saída. Teve que enfrentar o banheiro do xilindró. Ao entronar-se, sentiu algo encostando em suas partes, logo reconheceu a mão de Jarbas que saia vaso afora procurando por ela.
Um grito. Um susto. Um colapso. Um coração que já não bate mais.
Leila infartou e morreu ali mesmo, chafurdada em suas próprias escatologias, tal qual o pai de Jarbas.
Dois meses depois da morte de Leila na prisão, a mãe de Jarbas estava em casa rezando o costumeiro terço às dezoito horas quando o filho bateu à porta e entrou. Fedia.
Sorriu, com os poucos cacos que lhe restavam como dentes e seguiu até o banheiro, onde o pai morrera. A mãe que estava muito assustada, não conseguiu dizer nada apenas seguiu o filho.
Ele sentou-se no sagrado vaso e desfez-se num lamaçal fétido e marrom. Não sobrou nenhuma parte inteira, desfez-se num multicolorido lamaçal marrom. Desfez-se em cinquenta marrons de bosta.

Toda Palavra é Obscena

Ao também crápula e amigo das palavras Juliano Lourenço

Toda palavra é obscena
Se insinua, se desnuda
Se mostra, se oferece
Faz uma dança sensual
Cativa e cria paixões
E o leitor diante de sua demência voyeur
Orgasmaravilha-se
Deleita-se
Torce-se e retorce-se
Respira fundo
Engole o nó da garganta e lê.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Profissão: Artista I

Ao amigo Alexandre Villas-Boas

O artista tem que ser um grande inconfomado, isso faz com que sua busca seja constante e sua obra seja significativa...
Enquanto houver artistas que se reviram na cama por um ideal ou "apenas" uma boa ideia, que fazem o que tem de ser feito, mesmo que isso seja incômodo pra muitos, ainda poderemos acreditar que nem tudo está perdido...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Paixão da Flor Madrugadeira Que Morreu Antes Mesmo de o Sol Sair

Deslinda-se a flor madrugadeira
Desfaz o botão e
Olha por entre as pétalas de outras flores
De onde vieram aquelas gotas de orvalho?
Não sabe se sorri ou se olha
Não sabe se respira ou se despe-se
Seca, despetala e morre

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Ao Velho Raul

Ao amigo e avô "emprestado", que cumpriu seu ciclo por aqui, Seu Raul...

A vida é realmente um ciclo
Ciclo de água corrente, que vai, vai e vai...
Traz pessoas que vão fluindo, flutuando conosco durante parte do percurso
E, de repente uma correnteza um pouco mais forte leva estes de nós...
Alguns ainda voltamos a encontrar no mesmo rio em algum momento da vida, se necessário.
Outros, só quando a gente também for desaguar no mar...
E esse não é o mar da saudade que nos resta, pra chorar
Este é o mar da vida
Vida que não acaba por aqui, como essa pequena estrofe.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Ciclo

Daqui a pouco 
o agora há pouco 
será ontem e o ontem 
já será ano passado!
O ano passado vai ser só saudade

E a saudade trará algo de outrora
E essa outra hora pode ser daqui a pouco.

Morre um Vagabundo

Morre um vagabundo.
Lamentam, os amigos.
Festejam, os inimigos.
Choram, as viúvas.
Surgem, os filhos.
Reclamam, os cobradores.
Tranquilizam-se, os devedores.
Aliviam-se, os pais.
Velam-no, os curiosos.
Apura, a polícia.
Acompanham-lhe, as moscas.
Devoram-no, os vermes.
Recebe-o, o diabo.
Santifica-o, o algoz.
Esquece-o, a sociedade.

Esquecer? A quem?
Antes mesmo de nascer já era um predestinado ao esquecimento
Já nasceu sendo ninguém e jaz na vala da indigência até hoje, morto
Putrefazendo-se como símbolo máximo de sua vaidade de vagabundo.
Não chegou a ser um problema social
Nem foi visto, tampouco citado.
Morre um vagabundo, e daí?


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Um Pouco Mais Tarde Ele Voltou e Fez

Reclamou mais uma vez do frio, porém vestiu o casaco e saiu, olhando de soslaio pr'aqueles que ainda estavam na sala. As pessoas ali, permaneceram em silêncio. Tensas, depois de ouvirem o esbravejar dele.
Não pensava em outra coisa além de cumprir sua promessa.
Os outros não acreditavam que ele fosse capaz de tal, por isso se esqueceram das palavras outrara ditas em tom de ameaça. Foram dormir.
Um pouco mais tarde ele voltou e fez.

Duas Bexigas Voando Sob a Lua Cheia

Era lua cheia. Passava das vinte e duas horas.
A lua estava com aquela cor meio flicts*.
E eu, chegando em casa quando vi.
Duas bexigas brincavam sozinhas com o vento pelo meio da rua.
Uma rosa e uma azul.
De vez em quando uma subia mais que a outra e num instante estavam juntas de novo, como se fosse um pega-pega.
Era possível ver sorrisos nas bexigas, como se fossem as próprias crianças.
Rodopiavam, subiam, desciam, mas, nunca ficavam paradas.
Movimentos insistentes sob o olhar generoso da lua e a companhia inevitável do vento.
Não me importa saber de onde vieram, só queria saber pra onde elas iam tão felizes.
Provavelmente acabar estouradas pelos pés de alguém que não sorri.
Foi singelo. E eterno.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Palavras Soltas



Pode parecer clichê, mas, a vida é simples, as pessoas é que fazem questão de complicá-la.
E aí passam grande parte do tempo tentando explicá-la.
As pessoas são uma complicação só.
Nunca se sabe o que tem por trás de um sorriso amistoso num domingo à mesa num almoço de família.
A gente se surpreende e se decepciona tanto, tantas vezes com quantas gentes.
Mas, cada um tem o que precisa ter das pessoas para aprender...
Aprender a ser e aprender a não ser,
Aprender a amar e aprender a ignorar certas questões e deixar que a vida flua, sem se perder em mágoas, rancores, raivas ou ódios... isso é cancerígeno.
Precisamos aprender a não exigir nada de ninguém que não venha de coração.
Aprender a não virar as costas para os nossos, principalmente quando eles precisarem de nós, pois quando for a nossa vez de precisar, eles podem não estar mais por ali...
Não viver se culpando, aprender a perdoar se perdoando e não cometendo os mesmo erros, chorando as mesmas lágrimas...
Fazer planos é importante, mas, planos de vários tamanhos: pra tarde de hoje, pra sábado que vem e pra daqui a quatro anos... Lembre-se que a tarde de hoje pode não chegar e nós nos perdemos pensando em daqui a quatro anos.
Isso não é uma lista de conselhos, é uma lista de ideias, de coisas que a gente faz, refaz ou nunca faz.
Deixo como ideias amar, fazer caridade, acreditar nas pessoas (até que estas provem que não o merecem), rir e muito. Ter fé.
A fé não remove montanhas, mas, te deixa forte pra ir às montanhas, subir e lá do alto gritar: eu estou aqui e foda-se!
A vida é isso, eu estou aqui e foda-se. Enquanto eu não estiver prejudicando ninguém, influindo no destino de ninguém, eu posso escolher fazer o que quero e foda-se de novo.
Posso parecer mal educado, mas, quem aqui disse que precisamos aparentar isso ou aquilo pra este ou aquele? Enquanto eu puder escolher, eu vou fazer o que quero e ser feliz, um dia por vez, um pouco por vez, do meu jeito, à minha maneira.
Não me cabem rótulos, por mais que os tenha. Não me cabem descrições, por mais que a façam. Não me cabem críticas, por mais que eu erre. Me cabe a minha imperfeição humana em busca da evolução.
A vida é simples.
E curta.
Curta!