segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Homo Sapiens?

O ser humano anda tão desumano, tão cruel, tão irracional, tão descivilizado que chamar alguém de humano é praticamente uma ofensa, um despautério.
A coisa anda tão feia que, em breve, os animais andarão pelos corredores das cadeias jogando amendoins e tirando fotografias.
Levarão seus filhotes para passear aos domingos, para ver os humanos em suas jaulas.
E neste dia haverá rebelião. Os humanos não aguentariam ser ridicularizados, terem seus egos feridos.
Só que a rebelião ficará da grade pra dentro- eles não teriam coragem de sair e enfrentar os gorilas e elefantes.
Como de costume, queimarão colchões e morreriam asfixiados ou queimados. Todos, um por um, produzindo um hecatombe.
E isso ia se repetir a cada domingo, em todos os presídios onde todos os seres humanos estariam presos (ou será que alguém estaria livre das mazelas humanas e afim de trabalhar sua animalidade?).
Quando todos os humanos estiverem extintos, haverá paz e a natureza poderá se tranquilizar e ser curtida à vontade.

[...]

E você o que faz pra ser mais animal? Ama? Respeita? Cuida?

Ego Rude

Magro, parecendo um lobisomem... 
Descalço, pés sujos... 
Que asco eu sentiria se não fosse este um músico... 
Que asco eu sentiria se não fosse um mítico... 
Que asco eu sentiria se não fosse um mágico... 
Que asco eu sentiria se não fosse no mínimo: eu... 
Não, não sou o máximo... 
Talvez um cara prático, 
quase nada plástico, 
que se faz de elástico pra dobrar táticas bélicas e patéticas 
de tornar metódicas as coisas poéticas 
e o orvalho cíclico que nos deixa atônitos, me olha de soslaio e sorri irônico... 
Cínico! Mágico! Trágico!

Saudade Todo Dia



Saudade é o nome daquele tempo.
O tempo que deixou de acontecer faz tempo
E há tempos vem acontecendo em mim
Botando o coração aos pulos
Escorrendo sorrisos pelas lágrimas
Saudade é um tema lindo de se chorar.
Saudade não é querer viver tudo de novo.
É a alegria de estar  vivo ali
Naquele tempo-espaço-cheiro-gosto-rosto-imagem-som.
Saudade é uma foto que não foi tirada
Mas, não sai do álbum da memória
Sempre cheia de sorrisos, joelhos ralados, bolo com café
A saudade humaniza os nossos corações
Surge e desestabiliza tantas emoções
Lembra de todas as velhas desilusões
A saudade é o caminho pra se fazer canções
A saudade é o caminho pra se fazer canções
Sei lá o que é saudade,
Pode ser uma saudação à idade
Que insiste em avançar, deixando tudo para trás
E criando outras histórias,
Novas fotos, beijos, bolos de cenoura
Que ainda hão de ficar na saudade também.
Mais um dia que termina e eu me pego pensando
Como este ano passou rápido, meu cabelo cresceu
Minha barba tá enorme, amanhã é natal
Sinto falta da minha vó, sinto saudade todo dia.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Proparoxítonas Soltas

Utópico e tímido
Fez-se lívido, pálido, esquálido
Quiçá inválido
Quando ouviu a tal música
Feita pra deixar atônito
Todo sentimento sórdido
Pra sair de forma trôpega
Precisando tomar fôlego.
E quem tiver ideias flácidas
Sentirá queimar o estômago
Agirá como um sonâmbulo
Retumbantemente impávido
Caminhará pela necrópole
Tomará pra si a lápide
E escreverá seu texto último:
O tolo ri-se sem estímulo
E toda gente acha o cúmulo
Mas, a nobreza tange o espírito
Dos que buscam ser o único
O único a tornar-se célebre
É o bobo que chora ouvindo música.

Cinquenta Marrons de Bosta (A História Trágica de Jarbas e Leila)



AVISO: SE ACHOU O TÍTULO UMA BOSTA, NÃO CONTINUE LENDO!

O TEXTO TENDE A SER PIOR! E O FINAL, PODE ESPERAR, SERÁ NOJENTO!
LEIA O PRÓXIMO TEXTO QUE PODE SER BEM MELHOR QUE ESTE!


Jarbas teve uma infância normal. Era um garoto estudioso e feliz. Até o dia que marcou sua vida para sempre.
Naquele fatídico dia, Jarbas chegou da escola, adentrou a sala e ouviu gritos de sua mãe. Seu pai, tal qual o pai do doutor Sabino (já leu Nelson Rodrigues??), morreu em meio a um mar nojento e marrom. Não teve nem a oportunidade de ter, como ato derradeiro, o apertar da descarga. Esse foi o primeiro marrom que Jarbas guardou em sua memória de menino de 12 anos.
A cena chocou. Obsecou. Parava horas a fio observando os cães fazerem suas necessidades na rua e depois se aproximava pra ficar contemplando. Analisava cor, tamanho, cheiro, textura.
Jarbas foi crescendo e ganhando novas manias ao redor do fétido assunto. Uma delas era ouvir pessoas fazendo o popular número 2. Quando era possível até gravava os sons e ficava ouvindo, ouvindo, como se fosse música clássica.
Gostava também de espiar este ato sublime e íntimo. Qualquer oportunidade que tinha ou grudava o ouvido na porta ou o olho na fechadura.
Mas, ao mesmo tempo, carregava em si um medo tamanho de morrer feito seu pai.
Nas suas horas, tidas como sagradas, eu sempre seguia o mesmo ritual: lavava as mãos antes e depois, sempre levava consigo algo reconfortante para ler e uma garrafa d'água. Nunca tinha contato direto com o vaso sanitário, forrava-o com muito papel higiênico, talvez pra se preservar de ser contagiado pelo mal do pai cagão.
Jarbas, terminou o colégio, fez faculdade: biologia. Especializou-se em estudar as formas de excreção no reino animal.
Já tinha mais de 25 anos quando teve sua primeira namorada. (Outras vezes teve apenas romances curtos com diversas garotas, que normalmente o abandonavam por conta de algumas excentricidades. Observar cocôs de cachorro, por exemplo.)
Leila era linda, corpo escultural, inteligentíssima, simpática, conquistou Jarbas num primeiro contato. Claro, tinha que ser na porta do banheiro do shopping, enquanto ambos esperavam seus irmãos mais novos.
Jarbas era um gentleman, apesar de tímido e de se esconder por detrás dos óculos e da barba rala, sabia bem como falar às mulheres.
Começaram a namorar muito rápido. Paixão quente, fumegante, feito... enfim, deixa pra lá.
(...)
Num dia, Jarbas foi visitar Leila, que estava sozinha no apartamento que dividia com a irmã mais nova e uma prima do interior. Ela vestia uma camisetinha branca curta, que deixava a barriga à mostra e um shorts jeans, feito com uma velha calça desbotada. Ele uma camiseta branca básica e um bermudão cáqui. Quando a viu, desejou-a mais que em todos os outros dias. Ela sabia como provocá-lo e aquela era a grande oportunidade de se "conhecerem melhor".
Em poucos minutos já estavam nus se olhando. Ele deu passos à frente e sorriu, um sorriso nunca visto antes por ela.  Leila disse: já volto! E ele ficou atento, pode ser que ela fosse ao banheiro. Ao perceber que se tratava de problemas gastro-intestinais, correu à porta do banheiro. Entrou sem bater.
Leila deu um grito e tentou se esconder entre seus braços. O cheiro estava terrível e ela morrendo de vergonha. Jarbas estava louco. Olhos arregalados. Mãos trêmulas. Quase babava. Foi a primeira vez em quase 15 anos que vira alguém vivo no ato sublime da defecção.
Empurrou Leila para o lado, ajoelhou-se na frente do vaso e contemplou, ficou horas ali. Ela ainda tentou apertar a descarga, mas, ele impediu-a com o olhar apenas. E ela ficou em estado de choque, com a bunda colada no box. E ele ali estático. Plástico. Cínico. Clínico. Ilógico. Irreal. Imaterial. Inerte.
Passava das dezenove horas quando Leila saiu de seu transe e viu que Jarbas continuava ali. Ela saiu devagar, na ponta dos pés. Trancou a porta do banheiro. Vestiu-se e saiu.
Por volta das vinte e duas horas, ela voltou com a mãe dele, dois policiais e três amigos. Abriram a porta e...
Jarbas havia desaparecido. Não existia essa possibilidade, a janela era pequena e tinha grades. A porta não tinha como ser aberta depois de trancada por fora.
Mas, um fato intrigou os presentes: o vaso estava vazio.
Será que Jarbas fora sugado pelo vaso sanitário do apartamento de Leila?
Vasculharam o apartamento. Verificaram as câmeras dos corredores. Nem sinal de Jarbas.
(...)
Leila foi presa, acusada de assassinato e ocultação de cadáver.
Em momentos de grande tensão ela sofria com as pressões intra-intestinais, e assim que chegou à carceragem viu-se sem saída. Teve que enfrentar o banheiro do xilindró. Ao entronar-se, sentiu algo encostando em suas partes, logo reconheceu a mão de Jarbas que saia vaso afora procurando por ela.
Um grito. Um susto. Um colapso. Um coração que já não bate mais.
Leila infartou e morreu ali mesmo, chafurdada em suas próprias escatologias, tal qual o pai de Jarbas.
Dois meses depois da morte de Leila na prisão, a mãe de Jarbas estava em casa rezando o costumeiro terço às dezoito horas quando o filho bateu à porta e entrou. Fedia.
Sorriu, com os poucos cacos que lhe restavam como dentes e seguiu até o banheiro, onde o pai morrera. A mãe que estava muito assustada, não conseguiu dizer nada apenas seguiu o filho.
Ele sentou-se no sagrado vaso e desfez-se num lamaçal fétido e marrom. Não sobrou nenhuma parte inteira, desfez-se num multicolorido lamaçal marrom. Desfez-se em cinquenta marrons de bosta.

Toda Palavra é Obscena

Ao também crápula e amigo das palavras Juliano Lourenço

Toda palavra é obscena
Se insinua, se desnuda
Se mostra, se oferece
Faz uma dança sensual
Cativa e cria paixões
E o leitor diante de sua demência voyeur
Orgasmaravilha-se
Deleita-se
Torce-se e retorce-se
Respira fundo
Engole o nó da garganta e lê.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Profissão: Artista I

Ao amigo Alexandre Villas-Boas

O artista tem que ser um grande inconfomado, isso faz com que sua busca seja constante e sua obra seja significativa...
Enquanto houver artistas que se reviram na cama por um ideal ou "apenas" uma boa ideia, que fazem o que tem de ser feito, mesmo que isso seja incômodo pra muitos, ainda poderemos acreditar que nem tudo está perdido...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Paixão da Flor Madrugadeira Que Morreu Antes Mesmo de o Sol Sair

Deslinda-se a flor madrugadeira
Desfaz o botão e
Olha por entre as pétalas de outras flores
De onde vieram aquelas gotas de orvalho?
Não sabe se sorri ou se olha
Não sabe se respira ou se despe-se
Seca, despetala e morre

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Ao Velho Raul

Ao amigo e avô "emprestado", que cumpriu seu ciclo por aqui, Seu Raul...

A vida é realmente um ciclo
Ciclo de água corrente, que vai, vai e vai...
Traz pessoas que vão fluindo, flutuando conosco durante parte do percurso
E, de repente uma correnteza um pouco mais forte leva estes de nós...
Alguns ainda voltamos a encontrar no mesmo rio em algum momento da vida, se necessário.
Outros, só quando a gente também for desaguar no mar...
E esse não é o mar da saudade que nos resta, pra chorar
Este é o mar da vida
Vida que não acaba por aqui, como essa pequena estrofe.