sábado, 25 de agosto de 2012

De Repente o Vento Assobiou

De repente, ele ouviu o vento assobiar lá fora e sentiu um calafrio.
Tremeu até os ossos. Os olhos lacrimejaram.
Levantou-se com cuidado e fechou a janela.
Voltou à cama e algo estranho havia acontecido com seu corpo.
Não sabia o quê.
Sentia dores na região das escápulas como se algo rasgasse sua pele e seus ossos.
Como se faltasse coragem até pra respirar, nem tentou descobrir o incômodo. Apenas deitou-se de bruços, buscando dormir.
Já passava das três da manhã quando uma tosse terrível o sacudiu na cama, parecia que seus pulmões iam saltar chão afora. Sentiu um sabor estranho na boca, como se tivesse  comido um passarinho vivo. Não conseguiu abrir os olhos, por mais que tentasse.
Ficou ali digerindo suas dores. E o vento ainda assobiava mais alto.
Abriu os olhos e não enxergava nada além de uma névoa acinzentada.
Ouviu passos na escada. "Enfim, alguém pra me ajudar."

A porta rangeu, abrindo-se.
Um cheiro invadiu o ar, empestiou o quarto. Não sei se cheirava mal mesmo ou eram as circunstâncias que faziam com que cheirasse mal.
"Vim te buscar, vamos."
Houve silêncio, tanto que dava pra ouvir um coração batendo acelerado, feito trote de cavalo assustado.
Respiração forte, soluços, convulsões.
Agarrou-se a qualquer coisa que havia ali, esforçando-se até se colocar de pé, em meio à escuridão acinzentada e ao silêncio ruidoso.
Um tiro. Certeiro. Caiu um corpo no chão e o vento assobiou mais um pouco e  parou.
O tempo parou e se fez amanhecer. Um pássaro cinzento cantou num galho ali perto da janela e o defunto sorriu, como se nada tivesse acontecido.
O pássaro voou e ninguém soube quem morreu, nem quem matou.
Só se sabe que o pássaro voou.

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