sábado, 18 de agosto de 2012

Paixão do Filho de Chocadeira


O filho de chocadeira não tem coração.
O filho de chocadeira tem uma pena dourada a ostentar
E dá pena do filho de chocadeira por ser tão vulgar.
O filho de chocadeira não tinha mãe
Mas, ainda assim, pra matá-la,
Tirou a máquina da tomada
E jogou-lhe água da privada.
O filho de chocadeira teve filhos (sem chocadeira)
Só pra comê-los vivos
Pra tê-los nas mãos.
O filho de chocadeira ficou rico
E passou a tomar sangue fresco.
O filho de chocadeira despreza os seus.
O filho de chocadeira se acha o próprio deus.
O filho de chocadeira está envelhecendo
E as frangas novas não gostam de galo velho.
O filho de chocadeira está só.
Numa tristeza e amargura que dá dó.
Mas, não tenho dó do filho de chocadeira,
Cada homem escolhe o seu destino, faz as suas escolhas.
O filho de chocadeira está tossindo
Tossindo muito
Tossindo demais
Gosto de sangue na boca
Pingos de sangue na roupa
Jorra sangue dos orifícios do filho de chocadeira
E ele chama sua mãe
E ele clama sua mãe
E ele não reclama com sua mãe.
O filho de chocadeira não tem mãe.
O filho de chocadeira não tem filhos,
Ou é assim que ele sempre fez questão de mostrar.
Morre o filho de chocadeira
Engasgado com seu próprio sangue
Sentado na velha cadeira.
Não houve dinheiro pra salvá-lo da morte.
Não houve franguinhas pra desejarem boa sorte.
Não houve ostentação.
O filho de chocadeira jaz vagando pela escuridão.
Gemendo e chorando por ter se negado a sorrir.
O filho de chocadeira não consegue dormir.
Quer gritar, mas, ninguém vai lhe ouvir.
Sinto pena do filho de chocadeira,
Que morreu sem nem haver sinal de choradeira.

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