segunda-feira, 16 de junho de 2014

Manifesto Marginal

"Podem até maltratar meu coração, que meu espírito ninguém vai conseguir quebrar..."
(Renato Russo)


Daqui da margem eu vejo
Vejo o lago, que outrora fora de águas cristalinas
Vejo os que se banham nele
Vejo o lago secar
Vejo os que se banham nele
Senhores feudais, capitães-do-mato, bobos da corte
Vejo seus corpos sujos da lama mais suja
Até o pescoço
E do pescoço pra cima ostentam sorrisos amarelos
E gritos de ordem
Que daqui da margem eu faço questão de não ouvir
Afinal, estou na margem...
Daqui da margem eu vejo
Vejo os capitães-do-mato perseguindo os que ainda tentam lutar, em vão
Vejo os senhores feudais contando seus vinténs
Vejo os bobos felizes ostentando suas migalhas
Vejo a miséria que suas ganâncias atraem
Vejo a lama se alastrar por onde passam, feito um tumor
Vejo a morte dos sonhos que não chegaram à margem
Vejo a morte dos corpos enfermos
Ouço as gargalhadas dos senhores
Mas, não sinto seus bafos de enxofre
Que daqui da margem eu faço questão de não sentir
Afinal, estou na margem...
Daqui da margem eu vejo
Vejo outros tantos marginais
Impedidos de nadar nos grandes lagos (hoje verdadeiros lamaçais!)
Mas, que aprenderam a chamar chuva
Chuva que vem do céu e purifica
Limpa os rancores, os ódios e atrai o bem
Que faz brotar na terra mais amor
Que faz brotar na mente novas ideias
Que faz nascer uma fonte marginal
De água cristalina, que jorra sem cessar
Água que é compartilhada entre todos nós, da margem
Água de gosto ruim para os senhores e os seus
Eles tentam parar a fonte e mais ela jorra
Tentam calar a voz e mais ela canta
Afinal, estamos na margem...
Daqui da margem eu vejo
Vejo o passeio da lua, o brilho das estrelas e sinto o calor do sol
Vejo sonhos, impensados no lamaçal, se tornarem realidade na margem
Vejo o nascimento de verdadeiros heróis...
Daqui da margem eu vejo
Aqui na margem eu vejo
Aqui na margem eu sinto
Aqui na margem eu não me escondo
Eu faço!
Blindado por cristal, mas, feito de aço
Não durmo, vejo tudo
Vejo o declínio do feudo
E a ascensão de um novo tempo
Pois então
Seja marginal, seja herói...

Saudade Todo Dia II

Eu sou nostálgico
Naturalmente cheio de saudade
Um saudoso incorrigível
Sinto falta até de coisas que não vivi
De lugares que não conheci
De rostos que não vi
De livros que não li
De abraços, de beijos, de olhares que não dei
Mas, choro de saudade em silêncio
Não preciso ficar destilando à revelia.
(...)
Não guardo mágoas, raivas, ódios
Só lembranças boas
Não vivo de passado
É o passado que vive em mim
Me impulsionando a novos voos
Que decerto ficarão na memória
E serão saudade algum dia...
Afinal, como já disse outrora
Sinto saudade todo dia...