quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Ando Vendo Borboletas

Ando vendo borboletas
Para o lado que olho sempre há uma ali voando
Ando vendo borboletas
E elas andam vendo que lhes quero bem
Ando vendo borboletas
Soltas, livres, simplesmente borboleteando
Ando vendo borboletas
E tenho a certeza de que elas me veem

Enchem meus pulmões de ar
Enchem minha cabeça de sonhos
Enchem meu coração de esperança
Enchem meus olhos de alegria
E acalmam o meu espírito diante das inquietudes da vida

Ando vendo borboletas
E a liberdade que eu ganho em vê-las me deixa voar
Ando vendo borboletas
E esqueço que nenhum problema é maior que a solução
Ando vendo borboletas
E fico pleno, satisfeito, com vontade de cantar
Ando vendo borboletas
E encontro o equilíbrio entre a razão e a emoção

Ando vendo borboletas
Borboleteio vendo os andares
Ando borboleteando as vistas
Vejo andares borboleteantes
Borboleteio as vistas de quem anda
Vejo borboletas andantes
Ando vendo borboletas
A pequenina do rosal
E a que faz chocolate para a madrinha
Ando vendo borboletas
E elas fazem com que eu me liberte
Com que eu transcenda
Com que eu evolua
Com que eu cresça
Com que eu pare para vê-las...

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Amor, Amor

Para Elis e Alice

É linda a sensação
De ser alguém,
Parte de você,
De serem vocês partes também
De um outro alguém
A quem tomei como face
Perfeita e encantante
De um sentir sagrado
Onde qualquer ausência
Dupla, tripla ou una
Faz desdobrar aqui no peito
Um papel azul clarinho
Com letras amarelas
Desenhando saudade
Me fazendo lacrimar...

Amor incondicional
Quiçá exagerado
Instinto protetor
Amor, amor
Profundo qual o mar dos olhos seus
Onde mergulho, encontrando-me
E explodo num sorriso
Ao seus jeitos de sorrir
Lhes canto minha alegria
Seus caminhos de dormir
Lhes faço poesia e primavera
Na espera dia a dia
Dos seus dias de florir
Feito a linda flor
Que lhes guardou, sementes
Paciente e lhes trouxe à luz
Minha sensação mais terna de amor...

Minhas pequenas
Minhas grandes
Minhas ilhas
Primaveras, verões
Emoções
Maravilhas
Canção de coração
Canção de Elis
Canção de Alice
Canção de amor
Amor de filhas...
 

(Texto de Fevereiro de 2011)

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Não Devo Discutir Com Idiotas!

Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!
Não devo discutir com idiotas!

Repetindo feito um mantra
Em minha alma há alguém que canta
Canta contra os instintos primitivos
Que me faz matar os inimigos
Jogando meu veneno pela boca
Proferindo frases duras com voz rouca
E tremendo com a ira à flor da pele
Tentando frear a força que me compele
Exausto de palavras eu repito
Para que meus ouvidos ouçam, então eu grito
Buscando me livrar do que incomoda:

Não devo discutir com idiotas!


terça-feira, 2 de abril de 2013

Pequenas Tragédias Cotidianas Nº3

É uma dor que não doi. Sufoca. Aperta. Estrangula.
Um nó na garganta. Uma vontade de chorar. Muito.
Chorar durante horas. Dias. Chorar até cansar.
Rios, mares, represas. De lágrimas bem choradas.
Angustiado, aflito. Sei que meu grito não será ouvido.
Por mais que seja alto. Por mais que seja forte.
Por mais que eu não queira a morte. Por mais que...
Vou pular...
Não adianta...
Mais...
Não adianta mais...
Sem saída...
Sem rumo...
Sem prumo...
Sem forças...
Vou ser capa. Deitar na maca. Morto babaca.
Se desfazendo de sua própria vida.
E escrevendo uma carta suicida.

[Salto]





{Queda}

"HOMEM PULA DO VIADUTO E SE ESTATELA NA AVENIDA SOB O TRÂNSITO CAÓTICO DA CAPITAL PAULISTA E CORPO DESAPARECE DEBAIXO DOS PNEUS."

domingo, 31 de março de 2013

Pequenas Tragédias Cotidianas Nº 2

Tarde. Verão. Pôr-do-sol.
Vestido. Sandálias. Barba. Chapéu.
Ondas. Luau. Areia. Céu.
Canção. Violão. Sorrisos. Paixão
Cheiro. Gosto. Rosto.
Tato. Olfato. Paladar.
Mãos. Cabelos. Pelos.
Gemidos. Suspiros. Banho. Mar.
Tempo. Distância.
Barriga. Criança.
Ausência. Falta. Fome. Dor.
Dinheiro. Juiz. Cadeia.
Revolta. Fuga. Briga.
Sangue. Morte. Fim

quinta-feira, 28 de março de 2013

Pequenas Tragédias Cotidianas

Morrera de frio numa madrugada de outono há muitos anos, mas, preferiu, se é que era possível preferir, não sair daquele mesmo lugar. Continuou do mesmo jeito, na mesma posição, com o mesmo aspecto durante um longo tempo.
Desencarnou de um lugar onde já não havia carne, eram ossos apenas e uma pele dura. De sol a sol, de pó a pó, de frio a frio.
Em vida, já era um fantasma. Não tinha noção de horas, dias, anos, nome, endereço, família, nada. Não tinha lembranças.
Nos últimos tempos já nem se lembrava como era falar, depois de tantas tentativas, sem sucesso, de ser ouvido.
No início ainda tinha consciência, quando sóbrio. Lembrava-se de onde vinha e porque estava ali. Mas, o tempo foi passando e foi se criando uma consciência flutuante, que servia apenas para os fatos recorrentes em seu dia-a-dia nas ruas.
E um dia resolveu se instalar na esquina de uma rua movimentada, sob a porta de uma velha padaria que não funcionava mais. Ali ficou cumprindo sua pena de vida. Ainda neste tempo a chuva o incomodava.
O papelão que servia de cama, depois de uma chuva que durou quase uma semana, grudou-se em seu corpo. Fixou-se em sua casca. Ele não era negro, nem branco, nem pardo, nem bugre. Era da cor da sujeira. Da cor do chão. Do limbo. Do chorume. Fedia.
Algumas semanas antes de sua passagem teve momentos de lucidez e tentou se levantar. Não conseguiu. Tentou gritar, mas, sua boca sequer abriu. Decidiu que este mundo já não servia para si.
Mas, quem disse que ele poderia decidir algo? Quanto mais sobre si, se ele mesmo já nem existia há tempos. E foi morrendo aos poucos.
O corpo apodrecido pela vida jazia ali aos pés dos transeuntes e ninguém percebeu quando o coração não batia mais. Quem ia se importar? Era só mais um.
O corpo se foi. O que restou ficou por ali, na mesma posição. Sem acreditar em nada, sem querer mudar. Não assombrava, não atormentava, não se encostava em ninguém. Esperava sem esperança, esperava sem esperar.
Diante da ideia que lhe deu na cuca sobre a imortalidade da alma ele riu e disse pra sua própria ideia que aquilo era bobagem. Onde já se viu?!
Quando ouviu sua própria voz, tomou um susto. Resolveu se levantar e saiu caminhando em busca de alguma resposta, em busca de alguma luz.

segunda-feira, 25 de março de 2013

História de Filme Que Deixa a Gente Com Raiva no Fim

Ele gastou horas escrevendo o e-mail perfeito. Checou e revisou todas as palavras e ideias mais de dez vezes. Ela já o recebeu, mas, deixou pra ler mais tarde. Não deu tempo.
Ela estava saindo para o almoço quando o inesperado fez um surpresa. Um vagabundo qualquer que liderava um bando de bandoleiros do asfalto quente pegou-a pelo braço e disse "nós vamos ali, neném!".Seu coração faltou sair pela boca, nunca havia suado tão frio na vida. O cara saiu rua afora arrastando-a e ela num misto de medo e vontade de gritar, seguia a trilha sem titubeios.
Nunca tivera se sentido tão segura na vida. O vagabundo canalha tinha uma pegada, mil vezes maior do que a do frouxo do namorado. Que perdia tempo com imbecilidades do tipo flores e poesia. Esse não, era diferente, era másculo, forte, poderoso.
Envolta em pensamentos quase eróticos, ela chegou no cafofo, onde outros homens armados fizeram reverência ao rei. "É aqui, neném, tá afim de morar aqui comigo? Largue toda a sua vidinha de almoço de domingo-parque-missa. Grana, segurança, pegada forte e tudo o que você achar que tem direito nesse mundo. Tá afim?"
Ao invés do bandido, quem se rendeu foi a refém e caiu na cama do crápula.
Enquanto isso, o namorado esperava uma resposta. E esperou e chorou todo o tempo em que a polícia  a procurava, a família se desesperava com o sumiço repentino da moça de família que se foi com um vagabundo qualquer raptada na hora do almoço.
Uns choravam e ela comemorava. Virou a primeira-dama do crime, aprendeu a atirar, fumar e outras coisas que não convém contar. Tornou o vagabundo um empresário do crime, mudou seu guarda-roupas e sua forma de falar. Fez o negócio prosperar.
O ex vagabundo já estava tão feliz com os negócios que sonhava em largar o crime. Mas, toda que essa ideia lhe passava pela cabeça e escorria-lhe pelos lábios ela dizia "Tá querendo fuder o negócio, pô? Vou estourar sua cabeça na próxima vez em que cogitar honestidade nesse lugar!"
Ele chorou. Aquele que no começo do texto eu tratei de vagabundo e que a esta altura do campeonato tornou-se ele, chorou.
Foram se deitar. Já fazia dois anos que o tal do ex namorado havia mandado o e-mail e até agora ela não tinha aberto ainda e ninguém sabia por onde ela andava.
Naquela noite, o homem durão, cheio de pegada, que fazia e acontecia, havia chorado. Não se sabe se era raiva, vontade de voltar no tempo e não agarrar ninguém na rua, não se sabe.
"Seu porra, pega um drink pra mim"
"Seu porra? Seu porra?" Aquelas palavras fizeram a cabeça dele girar. E ele caiu, teve um acidente vascular cerebral. Morreu ali mesmo. E ela disse aos empregados "Seus merdas, tirem esse porra daqui! Joguem no lixo, toquem fogo, mas, não quero mais saber dele, morreu, morreu, que deuzutenha!"
Resolveu ir ao computador do falecido e abrir sua velha caixa de e-mail. Quando viu aquele com título "Com Todo o Amor que Houver Nessa Vida" e o remetente sendo o ex namorado, uma lágrima escorreu, ela deu um quase sorriso e clicou para abrir o e-mail. A polícia chegou trocando tiros com os capangas, agora dela. O primeiro atingiu o monitor do computador, o segundo sua testa. É, não deu tempo.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Provérbio

Não idealizes ser sol
Se és estrela-do-mar
Mesmo que te esforces
Nunca, o sol, serás
Brilhe tua própria luz
Sê estrela,
Assim o brilho d'outra
Não te ofusca
Faça da tua busca
Algo bom de se sorrir
Não te entristeças
Pelo vencedor
Ganhe tuas guerras
Vá pela senda do amor
Principalmente do auto-amor
Não invejes
Mesmo emanando negatividade
Nunca serás o outro
Nunca estarás no lugar dele
Nunca sorrirás seus sorrires
Nunca dormirás seus sonos
Podes destruí-lo
Mas, nunca sê-lo
Levanta-te, invejoso
Não rastejes,
Mata a víbora
Que se alimenta de ti
Mata-te e nasce de novo
Renova-te!
E não invejes!



segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Homo Sapiens?

O ser humano anda tão desumano, tão cruel, tão irracional, tão descivilizado que chamar alguém de humano é praticamente uma ofensa, um despautério.
A coisa anda tão feia que, em breve, os animais andarão pelos corredores das cadeias jogando amendoins e tirando fotografias.
Levarão seus filhotes para passear aos domingos, para ver os humanos em suas jaulas.
E neste dia haverá rebelião. Os humanos não aguentariam ser ridicularizados, terem seus egos feridos.
Só que a rebelião ficará da grade pra dentro- eles não teriam coragem de sair e enfrentar os gorilas e elefantes.
Como de costume, queimarão colchões e morreriam asfixiados ou queimados. Todos, um por um, produzindo um hecatombe.
E isso ia se repetir a cada domingo, em todos os presídios onde todos os seres humanos estariam presos (ou será que alguém estaria livre das mazelas humanas e afim de trabalhar sua animalidade?).
Quando todos os humanos estiverem extintos, haverá paz e a natureza poderá se tranquilizar e ser curtida à vontade.

[...]

E você o que faz pra ser mais animal? Ama? Respeita? Cuida?

Ego Rude

Magro, parecendo um lobisomem... 
Descalço, pés sujos... 
Que asco eu sentiria se não fosse este um músico... 
Que asco eu sentiria se não fosse um mítico... 
Que asco eu sentiria se não fosse um mágico... 
Que asco eu sentiria se não fosse no mínimo: eu... 
Não, não sou o máximo... 
Talvez um cara prático, 
quase nada plástico, 
que se faz de elástico pra dobrar táticas bélicas e patéticas 
de tornar metódicas as coisas poéticas 
e o orvalho cíclico que nos deixa atônitos, me olha de soslaio e sorri irônico... 
Cínico! Mágico! Trágico!

Saudade Todo Dia



Saudade é o nome daquele tempo.
O tempo que deixou de acontecer faz tempo
E há tempos vem acontecendo em mim
Botando o coração aos pulos
Escorrendo sorrisos pelas lágrimas
Saudade é um tema lindo de se chorar.
Saudade não é querer viver tudo de novo.
É a alegria de estar  vivo ali
Naquele tempo-espaço-cheiro-gosto-rosto-imagem-som.
Saudade é uma foto que não foi tirada
Mas, não sai do álbum da memória
Sempre cheia de sorrisos, joelhos ralados, bolo com café
A saudade humaniza os nossos corações
Surge e desestabiliza tantas emoções
Lembra de todas as velhas desilusões
A saudade é o caminho pra se fazer canções
A saudade é o caminho pra se fazer canções
Sei lá o que é saudade,
Pode ser uma saudação à idade
Que insiste em avançar, deixando tudo para trás
E criando outras histórias,
Novas fotos, beijos, bolos de cenoura
Que ainda hão de ficar na saudade também.
Mais um dia que termina e eu me pego pensando
Como este ano passou rápido, meu cabelo cresceu
Minha barba tá enorme, amanhã é natal
Sinto falta da minha vó, sinto saudade todo dia.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Proparoxítonas Soltas

Utópico e tímido
Fez-se lívido, pálido, esquálido
Quiçá inválido
Quando ouviu a tal música
Feita pra deixar atônito
Todo sentimento sórdido
Pra sair de forma trôpega
Precisando tomar fôlego.
E quem tiver ideias flácidas
Sentirá queimar o estômago
Agirá como um sonâmbulo
Retumbantemente impávido
Caminhará pela necrópole
Tomará pra si a lápide
E escreverá seu texto último:
O tolo ri-se sem estímulo
E toda gente acha o cúmulo
Mas, a nobreza tange o espírito
Dos que buscam ser o único
O único a tornar-se célebre
É o bobo que chora ouvindo música.

Cinquenta Marrons de Bosta (A História Trágica de Jarbas e Leila)



AVISO: SE ACHOU O TÍTULO UMA BOSTA, NÃO CONTINUE LENDO!

O TEXTO TENDE A SER PIOR! E O FINAL, PODE ESPERAR, SERÁ NOJENTO!
LEIA O PRÓXIMO TEXTO QUE PODE SER BEM MELHOR QUE ESTE!


Jarbas teve uma infância normal. Era um garoto estudioso e feliz. Até o dia que marcou sua vida para sempre.
Naquele fatídico dia, Jarbas chegou da escola, adentrou a sala e ouviu gritos de sua mãe. Seu pai, tal qual o pai do doutor Sabino (já leu Nelson Rodrigues??), morreu em meio a um mar nojento e marrom. Não teve nem a oportunidade de ter, como ato derradeiro, o apertar da descarga. Esse foi o primeiro marrom que Jarbas guardou em sua memória de menino de 12 anos.
A cena chocou. Obsecou. Parava horas a fio observando os cães fazerem suas necessidades na rua e depois se aproximava pra ficar contemplando. Analisava cor, tamanho, cheiro, textura.
Jarbas foi crescendo e ganhando novas manias ao redor do fétido assunto. Uma delas era ouvir pessoas fazendo o popular número 2. Quando era possível até gravava os sons e ficava ouvindo, ouvindo, como se fosse música clássica.
Gostava também de espiar este ato sublime e íntimo. Qualquer oportunidade que tinha ou grudava o ouvido na porta ou o olho na fechadura.
Mas, ao mesmo tempo, carregava em si um medo tamanho de morrer feito seu pai.
Nas suas horas, tidas como sagradas, eu sempre seguia o mesmo ritual: lavava as mãos antes e depois, sempre levava consigo algo reconfortante para ler e uma garrafa d'água. Nunca tinha contato direto com o vaso sanitário, forrava-o com muito papel higiênico, talvez pra se preservar de ser contagiado pelo mal do pai cagão.
Jarbas, terminou o colégio, fez faculdade: biologia. Especializou-se em estudar as formas de excreção no reino animal.
Já tinha mais de 25 anos quando teve sua primeira namorada. (Outras vezes teve apenas romances curtos com diversas garotas, que normalmente o abandonavam por conta de algumas excentricidades. Observar cocôs de cachorro, por exemplo.)
Leila era linda, corpo escultural, inteligentíssima, simpática, conquistou Jarbas num primeiro contato. Claro, tinha que ser na porta do banheiro do shopping, enquanto ambos esperavam seus irmãos mais novos.
Jarbas era um gentleman, apesar de tímido e de se esconder por detrás dos óculos e da barba rala, sabia bem como falar às mulheres.
Começaram a namorar muito rápido. Paixão quente, fumegante, feito... enfim, deixa pra lá.
(...)
Num dia, Jarbas foi visitar Leila, que estava sozinha no apartamento que dividia com a irmã mais nova e uma prima do interior. Ela vestia uma camisetinha branca curta, que deixava a barriga à mostra e um shorts jeans, feito com uma velha calça desbotada. Ele uma camiseta branca básica e um bermudão cáqui. Quando a viu, desejou-a mais que em todos os outros dias. Ela sabia como provocá-lo e aquela era a grande oportunidade de se "conhecerem melhor".
Em poucos minutos já estavam nus se olhando. Ele deu passos à frente e sorriu, um sorriso nunca visto antes por ela.  Leila disse: já volto! E ele ficou atento, pode ser que ela fosse ao banheiro. Ao perceber que se tratava de problemas gastro-intestinais, correu à porta do banheiro. Entrou sem bater.
Leila deu um grito e tentou se esconder entre seus braços. O cheiro estava terrível e ela morrendo de vergonha. Jarbas estava louco. Olhos arregalados. Mãos trêmulas. Quase babava. Foi a primeira vez em quase 15 anos que vira alguém vivo no ato sublime da defecção.
Empurrou Leila para o lado, ajoelhou-se na frente do vaso e contemplou, ficou horas ali. Ela ainda tentou apertar a descarga, mas, ele impediu-a com o olhar apenas. E ela ficou em estado de choque, com a bunda colada no box. E ele ali estático. Plástico. Cínico. Clínico. Ilógico. Irreal. Imaterial. Inerte.
Passava das dezenove horas quando Leila saiu de seu transe e viu que Jarbas continuava ali. Ela saiu devagar, na ponta dos pés. Trancou a porta do banheiro. Vestiu-se e saiu.
Por volta das vinte e duas horas, ela voltou com a mãe dele, dois policiais e três amigos. Abriram a porta e...
Jarbas havia desaparecido. Não existia essa possibilidade, a janela era pequena e tinha grades. A porta não tinha como ser aberta depois de trancada por fora.
Mas, um fato intrigou os presentes: o vaso estava vazio.
Será que Jarbas fora sugado pelo vaso sanitário do apartamento de Leila?
Vasculharam o apartamento. Verificaram as câmeras dos corredores. Nem sinal de Jarbas.
(...)
Leila foi presa, acusada de assassinato e ocultação de cadáver.
Em momentos de grande tensão ela sofria com as pressões intra-intestinais, e assim que chegou à carceragem viu-se sem saída. Teve que enfrentar o banheiro do xilindró. Ao entronar-se, sentiu algo encostando em suas partes, logo reconheceu a mão de Jarbas que saia vaso afora procurando por ela.
Um grito. Um susto. Um colapso. Um coração que já não bate mais.
Leila infartou e morreu ali mesmo, chafurdada em suas próprias escatologias, tal qual o pai de Jarbas.
Dois meses depois da morte de Leila na prisão, a mãe de Jarbas estava em casa rezando o costumeiro terço às dezoito horas quando o filho bateu à porta e entrou. Fedia.
Sorriu, com os poucos cacos que lhe restavam como dentes e seguiu até o banheiro, onde o pai morrera. A mãe que estava muito assustada, não conseguiu dizer nada apenas seguiu o filho.
Ele sentou-se no sagrado vaso e desfez-se num lamaçal fétido e marrom. Não sobrou nenhuma parte inteira, desfez-se num multicolorido lamaçal marrom. Desfez-se em cinquenta marrons de bosta.

Toda Palavra é Obscena

Ao também crápula e amigo das palavras Juliano Lourenço

Toda palavra é obscena
Se insinua, se desnuda
Se mostra, se oferece
Faz uma dança sensual
Cativa e cria paixões
E o leitor diante de sua demência voyeur
Orgasmaravilha-se
Deleita-se
Torce-se e retorce-se
Respira fundo
Engole o nó da garganta e lê.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Profissão: Artista I

Ao amigo Alexandre Villas-Boas

O artista tem que ser um grande inconfomado, isso faz com que sua busca seja constante e sua obra seja significativa...
Enquanto houver artistas que se reviram na cama por um ideal ou "apenas" uma boa ideia, que fazem o que tem de ser feito, mesmo que isso seja incômodo pra muitos, ainda poderemos acreditar que nem tudo está perdido...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Paixão da Flor Madrugadeira Que Morreu Antes Mesmo de o Sol Sair

Deslinda-se a flor madrugadeira
Desfaz o botão e
Olha por entre as pétalas de outras flores
De onde vieram aquelas gotas de orvalho?
Não sabe se sorri ou se olha
Não sabe se respira ou se despe-se
Seca, despetala e morre

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Ao Velho Raul

Ao amigo e avô "emprestado", que cumpriu seu ciclo por aqui, Seu Raul...

A vida é realmente um ciclo
Ciclo de água corrente, que vai, vai e vai...
Traz pessoas que vão fluindo, flutuando conosco durante parte do percurso
E, de repente uma correnteza um pouco mais forte leva estes de nós...
Alguns ainda voltamos a encontrar no mesmo rio em algum momento da vida, se necessário.
Outros, só quando a gente também for desaguar no mar...
E esse não é o mar da saudade que nos resta, pra chorar
Este é o mar da vida
Vida que não acaba por aqui, como essa pequena estrofe.