domingo, 15 de abril de 2012

Fim de Tarde

Sinto o sabor amarelo-alaranjado de um fim de tarde, me vem aos ouvidos aquele cheiro de saudade e cada nota musical tem o perfume daquele dia que te vi pela última vez.
E todo fim de tarde é igual.
Eu me sento na beira do mar e espero um vento te trazer e uma onda te ancorar e você não vem, nunca mais... Fico sem porto, sem barco, sem vela, sem cais...
Caminho pela areia, que enche minhas sandálias... Procuro uma sereia, pra não me deixar morrer na praia de tanto esperar.
"Me leva, me leva, sereia
Faz teu canto me encantar
Me faz esquecer
Me deixa dormir
Pra poder me matar..."
Nem sequer há estrelas no céu, tampouco no mar... Nem um vagalume vadio com um ponto de luz pra me iluminar.
Só o sabor amarelo-alaranjado transformando meu paladar num palco de fel, por onde as palavras não passam e assim nunca posso cantar, pra espantar a tristeza e esperar a morte chegar.
Sinto uma abstinência de mim mesmo... Nem eu mesmo estou 'inda ali pra me ajudar.
Já saí de mim, não sou nem algo, nem alguém. Sonho com algo que fui, sonho com algo que foi, sonho com alguém que se foi...
E vou me despedaçando aos poucos, deixando o coração bater até o último segundo, quando tocar o chão ao pé da roseira onde escolhi pra morrer.
Rabisco palavras desconexas no chão, com uma pedra e minhas últimas forças se calam.
Não encontrei a quem perdi e nem nunca vou encontrar, esperei em vão... num vão, no vão da vida descobri que o sentido da vida é viver... óbvio demais, mas um segredo pra poucos, pérolas para porcos... e ali, morri.
Ressurgi ao terceiro dia e subi ao céu, agora eu era carcaça presa no pés da ave. Não sentia nada, só o sabor amarelo-alaranjado, com o cheiro da saudade que eu sentia de você.
Naquele dia te vi voltar, me procurou incessantemente. Não me encontrou.
E todo fim de tarde se tornou diferente do que fora, mas sempre... igual...

(Texto de Janeiro de 2009)

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