quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Paciência

E eu?
Eu finjo ter paciência.
Diante das urgências
E das insurgências
Dos malogros e maledicências
Minha blindagem, meu norte
Ainda é a paciência
Ou fingi-la.
Finjo tanto
Tanto, tanto
Que ela me abraça 
Me acalenta
Me acalma
Me realma
Nestes tempos desalmados
Antes que eu me transfigure
Também, num desalmado.
Tristes daqueles que vivem assim
Sem sal, sem alma
Enchem seus bolsos 
Mas, se mantém vazios
Comandados pelo frio 
Pelo retilíneo
Pelo inflexível 
Pelo incircunflexo
Pela ilusão da segurança
Pelo sem nexo
Sem sexo
Pela cinzitude.
Este é o que está aí
Não sorri
Não dança 
Não desliga
Não descansa 
Só desgasta
Se arrasta.
Derrete
Despersonaliza
Padroniza
Fica igual
Uniforme
Disforme
Normal.
Seguindo as normas
Sob as rédeas
Preso às redes
Onde faltam janelas
Constroem mais paredes.
E eu? 
Mesmo que macambúzio,
Ainda resguardando
No fundo da garrafa
Uns goles de consciência
Eu sei que, 
Por vezes, fujo
Mas, não me sujo
Apenas
Finjo ter paciência.
(Edson Teles)

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