segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Passamos

Troquei a sua ausência 
Pela minha presença.
Até que eu não sou tão ruim 
Como você sugeriu.
Éramos uma grande dupla.
Que pena que você morreu.
Aqui. 
Pra mim.
Tô voltando do seu funeral
Com um pouco de saudade ainda.
Mas, passa.
Passou.
Passei.
Passamos.
[Edson Teles]

sábado, 23 de novembro de 2024

Você é Toda a Poesia

E você me disse que eu era bom com as palavras.
Concordei e discordei.
E sou mau com as palavras também, sinto muito por isso. Sinto muito e sinto tanto que quero reconstruir os caminhos. Quero rarefazer as mazelas e refazer as estrelas do nosso céu. 
Eu quero só te amar, do jeito que for, como puder, como quiser. Quero me debruçar nas janelas dos seus olhos e vê-los sorrir, antes mesmo do sorriso tomar seus lábios.
Quero olhar sua boca e degustar cada sorriso, cada palavra, cada silêncio. Sentir o sabor do teu beijo, o cheiro da tua pele, ver a cor da tua alma. 
Quero te olhar de olhos fechados e ver além. Pois eu te vejo. 
Meu desejo é maior. Desejo sua alma livre, voando feito um passarinho que volta ao ninho e nutre toda a passarada de amor, com amor, por amor. 
Eu te vejo ao longe e sinto saudade. 
Eu te vejo de perto e te sinto inteira, com tudo aquilo que transcende o olhar, mas que faz sentir o coração.
Escuto o seu coração como as batidas de uma canção que ainda nem fiz. Te sinto.
Num estado pulsilânime, macambúzio, sorumbático e seu abraço me reconduz a mim mesmo. Aqui dentro você pulsa e e entalha neste velho coração de madeira, uma obra de arte, sutil, fina, suave e aos olhos de quem passa pelas galerias deste museu, reluz, resplandece o amor.
Enquanto escrevo, defenestro pelos olhos lágrimas de paixão e de saudade.
Sou apenas um poeta.
Você é toda a poesia.

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Quase Um Soneto Pra Você Não Ler

De paixão em paixão 
De bar em bar
De canção em canção 
Ainda perco no jogo de amar.

De queda em queda
De sofrer em sofrer
De merda em merda
Talvez eu ainda goste de você.

E isso é o fim.
Pode ser que eu te ame muito ainda
Mas, ainda gosto muito mais de mim. 

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Perguntas Sem Resposta

Quem eu era antes de você chegar?
Quem você era antes de mim?
E agora? Quem somos nós?
Há nós? Houve nós?
Quais os nós que nos atavam?
Onde a gente estava quando desataram-se os nós?
Nós estávamos? Nós estivemos?
(...)
Quem é você?
Quem foi você pra mim?
Quem era você?
O que é que estou fazendo com você na cabeça?
Que sol é esse na minha cabeça?
Onde você tá agora?
Lá fora, além de aqui?
(...)
Por que você fugiu?
Por que te mandei fugir?
Por que você fingiu?
Você mentiu?
Quem era você?
(...)
Acho que esse monte de perguntas sem resposta devem ser sintomas de saudade. Saudade mata?
Morri. Aí. 
[Edson Teles]

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Tratamento de Silêncio

Seu silêncio soa
Ressoa
Entra pelos 7 buracos da minha cabeça
Me ensurdece
Me enlouquece
Me emudece
Me cega.
Não tenho mais vontade
Nem de te ver
Nem de brigar
Cansei de me debater
Cansei de me atirar aos seus pés
Me encontro inebriado pela tua ausência 
Tal qual era tua presença
Inebriante
Encantadora.
Estou encantado pelo fogo 
Fogo que queima nossas lembranças.
Qualquer coisa que ousar dizer
Será em vão.
Saia.
E leve seu silêncio com você.
[Edson Teles]

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Vazio Indigesto

Havia um nó na garganta sabor jiló
Era amargo, ruim de engolir
Tentei vomitar pra passar o mal estar.
Vomitei. Vomitei tudo. A garganta ficou ardendo até. 
Vomitei as palavras indigestas, mas me senti pior. 
Optei pela eutanásia. Te deixei me matar aí dentro. Aos poucos. 
Uma hora dessas a saudade vai dar lugar para alguma outra coisa aqui na estante, por enquanto fica o vazio imponente, importante, impotente. 
Espero que não seja um vazio perenal.
Espero me rarefazer em breve. E sumir, de vez. Talvez.
[Edson Teles]

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Crônicas e Tragédias Cotidianas I

Eis que adentro a linha azul e me deparo com uma figura comum, muito comum, entretanto, deveras patética que me faz chegar a um óbvio ululante: O homem cis hétero branco de 30 e poucos, 40 anos é o retrato absoluto do imbecil mediano brasileiro. Observemos este.
Veste calça jeans, camisa xadrez, um tipo de bota e na cabeça um corte de cabelo que, possivelmente, fora escolhido pela mãe do tal, digno de filmes do final dos anos 90. Ostenta um copo daqueles de interior metálico pendurado no pescoço, trejeitos de que possui sérios transtornos não cuidados, olhando as moças que estão no vagão num misto de loucura, frustração (de não ter muito traquejo para lidar com as mesmas) e uma certa timidez, quiçá uma vergonhazinha de coexistir com mulheres sem querer, sem saber não devorá-las. Carrega em si esses olhos famintos e de certa maneira débeis e infantis. 
É o cara que a maioria não temeria. Um homem "normal" apenas com tiques estranhos. Eu, um homem preto, de cabelos descoloridos, aparento ser muito mais perigoso. 
Posso estar julgando mal e à revelia o tal esteriótipo, mas, sei que o mal comportamento do "garoto", decerto viria à tona na mídia, após um feminicídio, apenas como "portador de transtornos psicológicos". Nunca o bandido que pode se esconder por detrás de sua fome. 
Os olhos daquele cara para as moças eram incômodos até pra mim, imagino para elas. Uma hora dessas, ele amadurece, tadinho.
Segue o pacto da branquitude protegendo seus "meninos" brancos típicos.